Direção: Lisandro Alonso
Um texto na tela informa que os antigos falavam de
“Jauja”, uma terra mitológica, de abundância e felicidade. Muitas expedições a
procuraram. Estrangeiros participavam dessas buscas, em terras do sul da
Argentina.
Podem preparar-se para a beleza das imagens que trazem a
Patagonia para os nossos olhos. Há uma contemplação da natureza que hipnotiza,
ao mesmo tempo que observamos os poucos personagens: o capitão Gunnar Dinensen
(Viggo Mortensen) e sua filha, uma menina bonita de 15 anos, loura de olhos
azuis, vestida à moda do século XIX (Ghita Norby).
“- Papai, por que não posso ter um
cachorro?”
“- Você vai ter Inge, quando voltarmos para
casa.”
Estão sentados numa pedra, próximos ao mar, onde
formam-se lagoas entre os recifes cobertos de musgo. Vemos leões marinhos ao
longe.
Outros personagens aparecem: um militar de calças
vermelhas, dono de um olhar lúbrico e cruel, que deseja a menina dinamarquesa,
tem colares de prata no peito queimado de sol. Outro ainda, fala em francês e
usa bengala e chapéu, afetado como um dândi.
Em suas conversas, referem-se aos “cabeças de coco” e a
um certo Zuluaga, que desapareceu. Correm boatos que se juntou a um bando e
cavalga vestido de mulher.
“- Por que os chamam de “cabeças de coco”? Precisamos
saber quem são para poder entendê-los” diz o capitão
dinamarquês.
“- Não vamos entendê-los, vamos matá-los”, responde
ríspido o militar de olhar cruel.
Mas a procura do paraíso, “Jauja”, como os indígenas
chamavam, transforma-se num inferno para o dinamarquês. Sua filha desaparece com
um soldado, ele vai atrás dela e vaga sozinho por uma terra verdejante com
riachos e depois árida e pedregosa. Tromba com mortos, quase mortos e
fantasmas.
“Jauja” traz uma natureza de rara beleza que convida à
contemplação, enquanto desafia o capitão dinamarquês. A câmara, fixa, mostra
grandes planos com o capitão lá longe. À noite, o céu de estrelas brilhantes, de
dia o azul ou chuva intensa sobre os campos amarelos.
E nós nos perguntamos: foi tudo um sonho? Que salto foi
esse para um século depois?
O roteiro escrito por um poeta, Fabian Casas, conta a
história argentina da campanha sangrenta dos militares para conquistar as terras
dos índios e mistura a esse episódio a expedição de busca de “Jauja”, o paraíso
perdido.
O tema do feminino e do amor costura as personagens
mulheres através de um soldadinho de brinquedo.
O formato da tela não é o usual e a narrativa é
solta.
“Jauja” não é um filme para se compreender. É um convite para uma
interpretação pessoal sobre o que significa essa busca do paraíso, tema
recorrente na história da humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário