“O Cidadão do Ano”- “Kraftidioten”, Noruega, Suécia,
2014
Direção: Hans Peter Molland
A Noruega, um país avaliado como o mais pacífico do
mundo, numa pesquisa realizada em 2007 pelo “Indice Global da Paz”, é o cenário
para o surpreendente “O Cidadão do Ano”, no qual acontece uma matança em meio a
muita neve e frio.
E as mortes, inicialmente, são de autoria de um pai de
meia idade, até então pacato, recentemente escolhido como “Cidadão do Ano” por
sua eficiência e caráter, que fica insano quando seu filho inocente é
assassinado por gangsters envolvidos no tráfico de cocaína. O “limpa-neve” vira
uma fera. Stellan Skarsgaard está assustador como Nils
Dickman.
Por mais que o assunto da vingança seja mórbido, o filme
não é. Porque se a raiva assassina do pai é realista, o bando norueguês,
comandado por um nervoso rapaz, Ole, conhecido como “Conde”(Pal Sverre Hagen) é
o responsável por inúmeras trapalhadas. O narcisismo enorme, modos infantís e a
constante briga com a ex-mulher pela guarda do filho, criam situações divertidas
e até mesmo demonstrações de brutalidade gratuita, que o “Conde” vê como
normais.
Já que a cidade está dividida entre as gangues
norueguesa e sérvia, esta última comandada pelo velho Papa (Bruno Ganz,ótimo),
os dois bandos culpam um ao outro pelas mortes que acontecem, sem se dar conta
de que quem está matando é o apagado “limpa-neves”, que transforma até seu
poderoso caminhão em arma letal.
Essa situação equivocada provoca ainda mais mortes,
inclusive a do filho de Papa, que inicia uma guerra sem trégua ao bando de
Ole.
Agora são dois pais furiosos que querem o “olho por
olho”.
Daria para povoar um cemitério o número de bandidos
mortos por ambos os lados, nomeados na tela por um anúncio fúnebre, que ora tem
uma cruz católica em cima do nome do morto, ora uma cruz ortodoxa, ora uma
estrela de David, ora outros simbolos menos conhecidos.
O título em inglês do filme é “Por ordem de
desaparecimento – By order of disappearence”, uma brincadeira com o “In order of
appearence” que sempre anuncia o elenco nos créditos
finais.
“Uma comédia com vocação para o absurdo e a morbidez”,
foi como o diretor, Hans Peter Molland, definiu seu
filme.
“O Cidadão do Ano” horroriza nossa sensibilidade e, ao
mesmo tempo nos diverte, criando uma contradição original que fala sobre a
agressividade assassina comum a todos nós, humanos, quando perdemos o controle e
a razão.
Um filme diferente que vale a pena ser
visto.
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