domingo, 21 de junho de 2015

Sangue Azul


“Sangue Azul”, Brasil, 2014
Direção: Lírio Ferreira

Em preto e branco, o barco Solaris leva a trupe do Circo Netuno para a ilha distante. Enquanto a lona é erguida na praia, o vento bate forte e o mar bravio sufoca os ruídos com o clamor de suas ondas. É o prólogo.
Em capítulos, e com cores, é contada a história do “Homem Bala”, que saiu da ilha menino ainda, levado por Caleb, o dono do circo. Ele volta depois de 20 anos, com outro nome. Não é mais Pedro, é Zolah, vestido de azul, que é atirado todo dia sobre uma rede, depois da explosão do canhão.
Daniel de Oliveira, olhos claros e fala mansa, faz o ilhéu que volta à sua terra natal, reencontra a mãe (Sandra Corveloni) e a meia-irmã Raquel, a mergulhadora loura e doce (Carolina Abras), com quem divide memórias da infância.
Com um cenário belíssimo, já que a ilha de Fernando de Noronha tem praias de areia, mar azul transparente e rochedos que se erguem do mar e da terra, o filme ganha em mostrar quadros com inspiração, na fotografia de Mauro Pinheiro Jr, premiada no Festival de Paulínia.
A cena do mergulho é de uma beleza espantosa e nos leva junto para a quietude do fundo do mar.
O elenco tem atores de primeira linha como Paulo Cesar Pereio, o Caleb, Matheus Nachtergale, o atirador de facas Guetan, Milhem Cortaz, o homem forte homossexual e Teorema, a sensual dançarina cubana (Laura Ramos).
Aos poucos, a presença dos personagens do circo atrai os ilhéus. O apelo sensorial e erótico fica mais forte.
Um triângulo amoroso se forma com Pedro/Zolah, Raquel e seu noivo Cangulo. As paixões explodem e o incesto tão temido pela mãe do “Homem Bala”, emerge do fundo do passado.
A ilha vulcânica parece estimular a libido e os corpos se aproximam e se enroscam, desafiando as leis dos homens e honrando a natureza exuberante e bravia do local. Mas a angústia também se faz presente e assusta com sua força.
No epílogo, Ruy Guerra, na pele de um velho pescador misterioso, conta às crianças o mito da “Lenda do Pecado”, fundadora da arquitetura dos rochedos da ilha: Dois Irmãos e Morro do Pico. Os gigantes que ali habitavam, tanto se amavam e transavam o tempo todo, com erotismo e força, que atraíram a inveja dos deuses e foram transformados em pedra.
“Sangue Azul”, com uma narrativa pouco estruturada, fascina pelos cenários naturais, pela magia do circo e das paixões.
Um cinema original.

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