“O Homem que Elas Amavam Demais”- “L’homme qu’on aimait
trop”, França, 2014
Direção: André Téchiné
Depois de informar secamente que se trata de um filme
baseado em fatos reais, a câmera mostra uma mão desenhando um homem envelhecido.
Só no fim vamos entender do que se trata.
A Côte D’Azur, no sul da França, com seu mar azul,
falésias que mergulham na espuma das ondas e suas enormes vilas com palmeiras e
jardins que descem para o mar, é um cartão postal
conhecido.
Nesse cenário e ao redor de um cassino em Nice, vai se
desenrolar uma história de ambição desmedida, traições, amores loucos, carência
afetiva e mistério, no fim dos anos 70.
Catherine Deneuve é Renée Le Roux, dona atual do
Cassino, herdado de seu marido rico, que lhe deixou uma filha, Agnès (Adèle
Haenel).
Ela desfila pelos salões de jogo em figurinos de finos
brocados cintilantes, jóias de bom gosto e cabelos presos em coques
caprichados.
Maurice Agnelet (Guillaume Canet, 42 anos, marido de
Marion Cotillard, ator e diretor), advogado de Madame Le Roux, acompanha a
pedido dela o divórcio de sua filha e vai buscá-la no aeroporto quando ela volta
da África.
Ele é sedutor, ambicioso e inescrupuloso. Vamos
entendendo isso ao longo das cenas que mostram amantes que o disputam, homem casado com um
filho. Relaciona-se com a máfia que cobiça o Cassino, às escondidas de Madame Le
Roux.
Preterido por ela num posto de diretor, que ele
ambicionava, nada mais natural para Agnelet que voltar-se para um novo alvo, a
conquista de Agnès, uma moça com baixa auto-estima, que vive num constante
atrito com a mãe por causa da herança do pai.
A verdade é que o Cassino tem dívidas, perdeu muito
dinheiro por trapaças e é ideal para o chefe local da máfia, o calabrês Fratoni,
para lavagem de dinheiro.
E apesar de saber das amantes, da mulher, do mau
caráter, Agnès se entrega com paixão cega a Maurice. Ela vai lhe dar o que ele
mais quer: contas e cofres de banco partilhados, depois que ela recebe o
dinheiro da herança quando o cassino é vendido para a
máfia.
O caso Le Roux apaixonou a França desde 1977 quando
Agnès desapareceu sem deixar vestígios.
Com muitas reviravoltas no tribunal, entendemos agora o
desenho do começo do filme, um longo “flash-back”. O retratado é Maurice
Agnelet, acusado de assassinato.
André Téchiné, 72 anos, faz seu 21º filme, o sétimo em
que trabalha com Catherine Deneuve, dirigindo com talento um filme que conta a
história sem se prestar a julgamentos.
O diretor deixa ao espectador a tarefa de entender as
motivações dos personagens, todos complexos em seus conflitos
psicológicos.
Quando o filme acaba, não há certezas ainda, porque o
caso ainda não acabou no tribunal, apesar da última condenação, em 2014, de
Maurice Agnelet a 20 anos de prisão. Ainda cabe uma outra apelação, já que
testemunhas se contradizem e se desdizem.
Esse deve ter sido o motivo mais forte que levou Techiné
a filmar a história, que ainda permanece em sombras, passados quase 40 anos do
desaparecimento de uma pobre moça apaixonada.
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