Direção: Myroslav
Slaboshpytskiy
De cara, ficamos sabendo que não haverá letreiros nem
vozes em “off” narrando os acontecimentos. Isso causa imediatamente uma aflição
no espectador que se pergunta: mas como vou entender?
Porém, se houver um pouco de paciência e nos
convencermos que não vamos entender mesmo a linguagem de sinais que os
surdos-mudos ucranianos usam no filme, acontece uma experiência
única.
De repente, vamos vendo pela sequência das ações, que
aquilo que pensamos que estava acontecendo, é o que estava realmente
acontecendo.
Como é estranho, e ao mesmo tempo surpreendente, que as
ações falem mais que mil palavras. É nesse momento que mergulhamos no filme, nos
identificando com o protagonista (Grigory Fesenpo) .
O garoto chega de mochila e mala numa escola para
surdos-mudos. Lugar decadente, com paredes descascadas, portas de ferro
enferrujadas e móveis precários.
Aparentemente, há algum interesse nas crianças e nos
jovens que ali estudam, com professores também surdos- mudos. Mas, como aquele
lugar é um microcosmo, em tudo igual ao mundo em que vivemos, logo aparecem os
sinais, para o novato, que ele vai ter que se adequar às regras impostas pelos
mais violentos.
Ele é forte, alto e é logo assediado para pertencer à
gangue que comete todo tipo de crimes: roubo, prostituição infantil,
contrabando. São violentos e vivem se atracando.
Em nada diferentes de jovens delinquentes de qualquer
lugar do planeta.
Mas o novato é tanto capaz de ódio como de ternura. A
bela loirinha (Yana Novikova) desperta nele uma paixão intensa. Ela retribui
e são muito bonitas as cenas de sexo,
filmadas com bastante realismo.
Só que, num ambiente como esse, o amor é uma flor
bissexta.
O diretor usou atores surdos-mudos que recrutou em um
ano, a maioria pela internet.
A câmera sensível acompanha longamente o que acontece,
sem cortes abruptos. O tempo é cronológico e as cenas se passam em tempo
real.
Não à toa, “A Gangue” causou espanto e polêmica em
Cannes no ano passado, onde ganhou a “Caméra d’Or” e o prêmio da Semana da
Crítica. A violência aqui é bastante real e causa incômodo para um público
acostumado com os filmes de ação corriqueiros.
“A Gangue” abala mesmo. Principalmente porque topamos
com a nossa própria natureza humana em carne viva.
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