“Um Pombo pousou num Galho refletindo sobre a
Existência”- “En duva satt pa en green och funderade pa tillvaron”, Suécia,
França, Alemanha, Noruega, 2014
Direção: Roy Andersson
O pombo aparece na primeira cena do filme. Só que está
empalhado numa vitrine de uma espécie de museu de História Natural. Um homem
apatetado observa o pombo e é observado por uma mulher.
O humor negro ou melhor, sardônico, do diretor sueco Roy
Andersson parece beber da mesma fonte de inspiração de Samuel Beckett
(1906-1989), escritor e dramaturgo irlandês, um dos mais influentes do século
XX, Nobel de literatura em 1969.
Assim como em Beckett (“Esperando Godot”, “Dias
Felizes”), a maioria dos personagens de Andersson são patéticos mais do que
engraçados e sofrem de angústia e solidão. Há uma crítica ácida à natureza
humana e sua tendência à crueldade, seja em situações terríveis como as guerras
e a colonização da África, seja na amizade e nas relações familiares, como
também no trato com os animais.
Em 39 quadros, Andersson mostra um sofrimento mudo ou
pouco refletido do ser humano em situações de relacionamento com os
outros.
Seus principais personagens, uma dupla tipo “Gordo e
Magro”, quer divertir as pessoas com produtos ridículos como dentes de vampiro,
saco de risadas e uma máscara grotesca de um velho. Devem dinheiro a seus
fornecedores e não são pagos pelos poucos produtos que vendem. Há uma relação
sado-masoquista e uma dependência perversa entre os dois, que se sentem
solitários sem a presença do outro e por isso não se
separam.
A morte é um tema que abre os três primeiros quadros e
não há piedade nem compaixão nessa hora.
O uso do telefone celular é ridicularizado. As pessoas
escutam e escutam, só murmurando sons apaziguadores e, no fim, dizem sempre a
mesma frase;
“- Estou feliz em saber que você está
bem.”
E vivem ligando para saber se há mensagens e escutam
sempre:
“- Você não tem mensagens.”
O amor contrariado, a vida como espera de algo que nunca
se encontra, o desespero mudo das pessoas bebendo sózinhas no bar ou o choro
convulsivo no qual ninguém presta atenção, são situações exploradas em outros
quadros.
Entretanto, há alguns momentos de descontração e
felicidade num casal que acaba de fazer amor e fumam abraçados na janela, numa
mãe que brinca com seu bebê, num casal jovem que se ama na praia e na dona de um
bar que aceita beijos como pagamento.
E há reflexão, ainda que tardia, em um único momento. O
quase desespero de um velho que, na hora em que o bar fecha, repete
seguidamente:
“- Eu fui ganacioso e não generoso na minha vida toda.
Por isso terminei infeliz.”
Então temos escolha, parece dizer o diretor sueco que
ganhou o Leão de Ouro de Veneza 2014.
O filme é uma reflexão sobre o ser humano que, talvez,
poucos vão apreciar. Afinal, para a grande maioria, infelizmente, é o “pombo”
que tem que refletir sobre a existência e não eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário