“Casa Grande”, Brasil, 2014
Direção: Felipe Barbosa
São muitos os Brasís que se entrelaçam num mesmo país.
Sabemos todos disso. A sala e a cozinha abrigam mundos diferentes, que se
interpenetram no dia a dia de uma casa de família de classe média alta no filme
“Casa Grande”.
O que chama a atenção no roteiro do diretor Felipe
Barbosa e Karen Sztajnberg é o flagrante da decadência dos que não produzem e
vivem do mercado financeiro, como o pai dessa família, Hugo (Marcello Novaes).
Como os tempos não estão bons para esse tipo de pessoa que, na verdade, apostou
com o dinheiro dos outros e se deu mal, ele está estressado. Mas o orgulho o
impede de abrir o jogo com os filhos. Ou mesmo de ir à luta e procurar um
trabalho de verdade.
A mãe Sonia (Susana Pires), professora de francês a
domicílio e depois vendedora de cosméticos, mima toda a família mas percebe-se
que também não vê uma saída para a crise que vivem.
Jean, o filho adolescente de 17 anos, o protagonista do
filme, carente, espinhas pelo rosto ainda imberbe, não entende por que não pode
usar mais a jacuzzi, nem o ar condicionado e precisa ir para a escola de ônibus
porque o motorista sumiu. Mas, se reclama da falta de dinheiro, não faz disso
seu problema central:
“- E o Severino?” pergunta ao pai, sentindo mais falta
da pessoa que do carro.
“- Foi para a Paraíba encontrar com o
filho”.
Mas Jean (Thales Cavalcanti, um novato brilhante),
descobre as mentiras do pai e fica ainda mais inseguro do que já
é.
Sofrendo com a inexperiência do sexo, primeiro ele corre
para o quarto da empregada divertida e bonitona (Clarissa Pinheiro), que não o
leva a sério, mas depois vai ter que crescer e enfrentar a vida. O que é bom
para ele. No ônibus, Jean conhece Luiza
(Bruna Amaya) e experimenta algo novo.
O retrato dos pais dessa família, representando uma
geração que caminha para a indigência em tudo, é
desolador.
A esperança está justamente na cozinha, onde pessoas que
dão duro, veem uma melhora para a vida de seus filhos. O filme toca no assunto
das cotas para negros nas universidades mas não faz disso sua bandeira.
Da mesma forma, alude aos direitos que os trabalhadores
conquistaram. Os tempos do “sinhôzinho” já passaram, queiram ou
não.
“Casa Grande” é um retrato de um pedaço do Brasil, o Rio
de Janeiro dos condomínios da Barra e das favelas (que poderia ser qualquer
outra grande cidade brasileira), visto pelos olhos de uma geração que ainda não
assumiu suas responsabilidades mas que já antevê as dificuldades do
processo.
Bem feito, ótimo elenco e roteiro estimulante valeram a
“Casa Grande” vários prêmios, inclusive o de melhor longa de ficção no Festival
do Rio, além de melhor atriz coadjuvante para Clarissa Pinheiro e melhor ator
coadjuvante para Marcello Novaes.
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