terça-feira, 30 de abril de 2013

O Futuro





“O Futuro”- “The Future”, Estados Unidos/ Alemanha 2011
Direção: Miranda July

Esse é um filme singular. Dirigido, roteirizado e interpretado por Miranda July, é o segundo longa dela, obra de uma “videomaker”, isto é, alguém que é mais uma artista plástica (ela também é escultora e faz instalações) do que uma diretora de cinema.
“O Futuro” trata de muitos temas, todos ligados à angústia de ser, de existir. São vivências de um casal jovem, que mora em Los Angeles e os dois parecem não saber que pertencem à humanidade, que sempre teve que lidar com os mesmos assuntos com que eles se debatem, só que com outras roupagens.
Sophie (Miranda July) e Jason (Hamish Linklater) beiram os 35 anos e fazem de tudo para não se mexer, não fazer escolhas, não desperdiçar o futuro para o qual se preparam, deixando o tempo passar e só fazendo o básico. Mas não são preguiçosos, estão paralisados pelo medo da inadequação e pela angústia de não saber o que acham que devem saber.
Na verdade idealizam a vida para não pensar na morte que os assusta.
Quando começa o filme, eles decidem que estão preparados para um grande passo: a adoção de um gato. Mas não qualquer um. Vão adotar Paw Paw, o Patinhas, que tem seis meses de vida porque sofre de insuficiência renal.
Miranda July, que escreve o roteiro, também faz o gato, um marionete do qual vemos em “close” as duas patas, uma embrulhada em gaze, curativo necessário para as injeções na veia diárias. Com uma vozinha infantil, Miranda diz as falas de Patinhas, que é o único personagem do filme que assume sem medo suas próprias carências e está encantado porque, pela primeira vez, ele que era um gato sem dono, vai ser cuidado e amado, vai pertencer àquele casal que o escolheu e que vai lhe dar uma vida feliz.
Ficamos penalizados com essa parte dissociada de Sophie e Jason que quer pertencer, ser amada e não tem medo de expressar sentimentos. Deduzimos que Patinhas é um lado dessa geração de Miranda July que só pode viver um sonho de futuro. De certa forma, idêntico ao que vive o casal Sophie/Jason. Só que Patinhas fala o que eles não dizem.
E as perguntas afloram. Quanto tempo demora para o futuro chegar? Quem não vive o presente vai ter futuro? Quem sabe o dia que o futuro vai chegar? O futuro existe?
Os sentimentos que jorram da gaiolinha onde está Patinhas, são censurados no casal que tem medo de assumir responsabilidades e não poder fazer o que pensam que realmente fará sentido em suas vidas, mas que ainda não sabem o que é. Perdem-se rejeitando as vidas alternativas possíveis, buscando os sinais que os levarão à vida certa. Puro auto-engano.
Dessa forma, condenados a sentimentos opacos, são sombra do que poderiam ser, presos na armadilha de não viver para não sofrer.
Pobre Patinhas, pobres Sophie e Jason.
“O Futuro”, que tem um ritmo lento proposital, precisa que a plateia abra seu coração para aprender a lição que a ruiva de olhos azuis e pele muito branca tem para ensinar: corram porque o futuro já chegou!

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