“Kon-Tiki”- Idem,
Noruega/ Dinamarca/Reino Unido, 2012
Direção: Joachim Roenning
e Espen Sandberg
Na tela, um céu azul
claro e montanhas com pinheiros e neve.
Um vulto surge ao longe e
o vemos aproximar-se, em uma única tomada sem cortes. Aos poucos, distinguimos
dois meninos. O de olhos azuis olha fixo para a câmara. Vê-se determinação no
rosto infantil.
“- Thor, não faça
isso!”
Outros meninos rodeiam
Thor que, à frente de um buraco no lago gelado, pula para um pedaço de gelo que
flutua e balança perigosamente com o peso do menino. O pior acontece. E Thor cai
na água gelada.
Debate-se e
afunda.
Não conseguimos saber
quem foi mas um dos meninos consegue iça-lo para a superfície. Thor, pálido,
treme da cabeça aos pés, deitado na neve.
Na cena seguinte, Thor
está na cama, em silêncio, ouvindo seus pais comentarem
preocupados:
“- Não sei por que você
foi fazer isso...”, diz a mãe.
“- Promete que nunca mais
vai voltar a fazer algo perigoso? Promete?”, diz o pai.
Parece que ele não
prometeu nada. Porque aquele menino louro viria mais tarde a ser o chefe da
expedição Kon-Tiki, uma aventura suicida, como comentavam na
época.
Thor Heyerdahl,
interpretado pelo norueguês Pal Sverre Valheim Hagen, em 28 de abril de 1947,
sai do porto de Cullao, no Perú, com outros cinco tripulantes, em uma frágil
jangada, feita exatamente como era construída pelos povos pré-colombianos há
1.500 anos atrás. Seu desejo é provar a tese de que a Polinésia foi descoberta
pelos antigos povos que habitavam a região que hoje é o Perú, e não por
asiáticos, como se acreditava até então.
Tudo começou porque Thor
e sua esposa Liv (Agnes Kittelsen) viveram por 10 anos em Fatu Hiva, na
Polinésia francesa. Estudaram a cultura, a fauna e a flora da ilha e a vida do
dia a dia levou Thor a observações interessantes:
“- Nossa! Como esses
povos asiáticos devem ter sido fortes para conseguir remar contra a correnteza
para chegar aqui...”, diz Liv a Thor, os dois remando uma
canoa.
Depois:
“- Como vocês vieram
parar aqui?” pergunta Thor a um chefe tribal.
“- Nós acreditamos que o
deus Sol, Tiki, trouxe-nos para essas ilhas a partir da terra por trás do mar.
Viemos do leste. Tudo vem do leste. As correntes do mar também. Os Tiki
navegaram o Sol.”
Juntando observações como
essas, Thor Eyerdahl construiu sua teoria:
“- Os antigos não viam o
mar como uma barreira mas como uma estrada.”
O filme é o relato fiel
dessa expedição e dos perigos e contratempos que esses homens louros e corajosos
enfrentaram. Navegaram 8.000 quilometros, em 101 dias, impulsionados pelas
correntes e pelo vento, em meio a calmarias, tempestades, tubarões, ondas
gigantes e o pior de tudo, o medo de morrer.
O menino, que ficou tão
traumatizado com a queda na água gelada que nunca conseguiu aprender a nadar,
conseguiu provar sua teoria, escreveu um livro sobre a expedição Kon-Tiki que
vendeu 50 milhões de exemplares e rodou um documentário durante a viagem na
jangada que ganhou o Oscar de 1950.
O filme é um tributo da
Noruega a seu herói, Thor Heyerdahl (1914-2002) que viveu essa aventura
fascinante, que acompanhamos com emoção nesse filme (indicado a melhor filme
estrangeiro no Oscar de 2013), como se estivéssemos na jangada com ele e seus
companheiros.
“Kon-Tiki” é um filme
envolvente, muito bem dirigido, que sabe narrar a aventura, mostrar o épico e o
dramático, além do perfil psicológico desses corajosos
desbravadores.
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