Direção: Jean
Becker
Aquele senhor tem um
problema. Vê-se pelo modo como fala, como olha as pessoas, como se
movimenta.
“- O dia está lindo!”,
diz sua mulher.
Mas ele está cinzento e,
ao invés de comprar o pernil encomendado por sua esposa, traz para casa um rifle
com pouquíssima munição.
“- Desistiu da pesca? Vai
caçar javalis?”, tinha perguntado o dono da loja de esportes.
Não. O senhor
Taillandier, pintor de sucesso, conhecido na cidadezinha onde mora, não vai
caçar. Quer se matar...
O filho estranha o jeito
do pai quando recebe no almoço seu presente de aniversário:
“- Uma viagem para a
Itália com mamãe!”
Ele sai da
mesa:
“- Não tenho
fome...”
A neta
comenta:
“- O que tem o vovô? Está
nervoso...”
E o filho pergunta para a
mãe:
“- O que é que o papai
tem?”
“- Não sei... Acho que é
depressão. Tentei falar com ele mas você sabe como ele é...”, responde
desanimada.
Isso pode acontecer com
os melhores seres humanos. Ao ver que a vida vai acabando, a juventude que se
foi, aquilo que não aconteceu, a pessoa se depara com uma grande tristeza, raiva
e mau humor com tudo e todos. É a depressão, como rótulo.
Taillandier ( o grande
ator Patrick Chesnais) deixa então um bilhete para sua mulher (Miou- Miou) e sai
sem rumo pela estrada.
A câmara fixa seus olhos
baços e seu rosto contraído, que são o retrato de uma encruzilhada onde ele se
encontra e não decidiu ainda para onde ir.
Quer viver, apesar de
tudo ou morrer? O rifle está no porta-malas.
Chove muito e no farol,
alguém invade o carro do pintor perdido. É Marilou (a estreante Jeanne Lambert),
uma garota de 15 anos, que foi expulsa de casa pela mãe e pelo padrasto.
Ela parece tão perdida
como Taillandier.
Mas esse encontro casual
vai selar uma mudança na alma daqueles dois. Um vai despertar no outro algo que
parecia inexistente antes de se encontrarem.
Jean Becker, filho do
grande diretor de cinema Jacques Becker(1906-1960), que dirigiu “Les Amants de
Montparnasse”(1958), e que faz 80 anos em maio, é conhecido do público
brasileiro por “Minhas Tardes com Marguerite” (2010) e “Conversas com Meu
Jardineiro” (2006). São filmes que falam do ser humano com carinho e de como
precisamos do outro para nos reinventarmos. Seus personagens são pessoas que
gostaríamos de conhecer.
Alguns acharam o filme
chinfrim, raso e simplório. Talvez porque não perceberam que a força dos filmes
de Jean Becker é olhar o ser humano com simplicidade e delicadeza.
Adaptando o romance de
Eric Holder, o diretor de “Sejam Muito Bem-vindos” privilegia, como sempre, o
carinho que mostra com seus semelhantes, mostrando que a vida oferece sempre uma
oportunidade de crescimento em uma nova direção.
Muita gente gosta de ir
ao cinema para ver isso.
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