Direção: Claude
Miller
No verão de 1922, num
lugar chamado Esperança, no campo francês, vemos duas meninas, Thérèse (Audrey
Tautou) e sua amiga e vizinha Anne (Anais Demoutier), de bicicleta, na floresta
de pinheiros que pertencia à família delas.
Depois, as duas deitadas
em um barco, aproveitando o sol. Anne relaxa e Thérèse lê.
Em outro dia, Anne, com
um tiro certeiro, abate uma pomba. Thérèse olha, com curiosidade e quase horror,
a amiga arrancar o pescoço da avezinha. Mau presságio?
Um veleiro de velas
vermelhas passa na praia e um rapaz canta uma canção.
“- Um dia meu irmão vai
se casar com você”, diz Anne para a amiga.
Em abril de 1928, Thérèse
Laroque passeia de braços dados com Bernard, irmão de Anne.
“- Vamos juntar nossas
terras quando casarmos.”
“- Bernard, vou casar com
você por causa de seus pinheiros. Você também vai fazer a mesma coisa pelo mesmo
motivo.”
“- Ah! Quantas ideias
falsas nessa cabecinha!” retruca o noivo.
“- Você vai ter a chance
de destrui-las”, responde ela.
No belo casarão da
família Desqueyroux, a mãe diz para o filho (Gilles
Lellouche):
“- Me incomoda que a sua
futura esposa tenha mais terras do que nós... E depois, ela fuma como uma
chaminé!”
Mais tarde, Thérèse diz
para Anne:
“- Minha cabeça está
cheia de ideias. É isso que me dá medo, não o casamento com seu irmão, Annette.
O casamento vai me salvar dessa desordem na cabeça. Escolhi a
paz.”
Mas o casamento vai
cobrar, cada dia, que ela esqueça de ter uma vida individual, já que pertencia à
família do marido.
Será que o romance
proibido da agora cunhada Anne com o belo rapaz português, que mora em Paris, e
é judeu, mexeu com Thérèse?
É ela que é mandada pela
família para falar com o rapaz para que termine o namoro. E escuta dele (Stanley
Weber):
“- Mas eu nunca pensei em
casamento! Anne teve a chance de amar o homem de sua vida. Depois ela vai se
casar como você, como qualquer mulher da província.”
Thérèse, que sempre fora
pálida, vai ficando mais fria e distante. Só os olhos, vivos e atentos, parecem
procurar uma saída.
Quando a filha nasce, ela
não é maternal nem se preocupa em cuidar do bebê.
Sua cabeça fervilhava de
ideias malsãs.
Uma aparente placidez
escondia uma turbulência interna perigosa, delirante, que buscava uma libertação
daquela prisão onde ela se sentia fenecer.
Audrey Tautou, 36 anos,
está maravilhosa na pele dessa mulher que conquista seu espaço pagando um preço
muito alto.
Claude Miller, que morreu
antes de ver seu filme nas telas, adaptou o livro de 1927, escrito por François
Mauriac (1885-1970), prêmio Nobel de literatura.
Quem leu o livro, que
dizem ser sombrio, percebe que o diretor não concorda com a punição e o desprezo
que o escritor reservava para sua personagem Thérèse. Claude Miller disse a
Audrey Tautou que queria fazer um filme feminista e foi com esse viés que
dirigiu “Thérèse D.” Percebe-se que ele sente simpatia por essa mulher
aprisionada por costumes rígidos e uma tradição cruel que dava pouca importância
aos desejos de afirmação das mulheres que viveram naquela
época.
Uma bela fotografia e
minuciosa direção de arte são um atrativo a mais nesse interessante filme de
época.
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