quarta-feira, 10 de abril de 2013

Therese D.




“Therese D.”- “Thérèse Desqueyroux”, França, 2012
Direção: Claude Miller

No verão de 1922, num lugar chamado Esperança, no campo francês, vemos duas meninas, Thérèse (Audrey Tautou) e sua amiga e vizinha Anne (Anais Demoutier), de bicicleta, na floresta de pinheiros que pertencia à família delas.
Depois, as duas deitadas em um barco, aproveitando o sol. Anne relaxa e Thérèse lê.
Em outro dia, Anne, com um tiro certeiro, abate uma pomba. Thérèse olha, com curiosidade e quase horror, a amiga arrancar o pescoço da avezinha. Mau presságio?
Um veleiro de velas vermelhas passa na praia e um rapaz canta uma canção.
“- Um dia meu irmão vai se casar com você”, diz Anne para a amiga.
Em abril de 1928, Thérèse Laroque passeia de braços dados com Bernard, irmão de Anne.
“- Vamos juntar nossas terras quando casarmos.”
“- Bernard, vou casar com você por causa de seus pinheiros. Você também vai fazer a mesma coisa pelo mesmo motivo.”
“- Ah! Quantas ideias falsas nessa cabecinha!” retruca o noivo.
“- Você vai ter a chance de destrui-las”, responde ela.
No belo casarão da família Desqueyroux, a mãe diz para o filho (Gilles Lellouche):
“- Me incomoda que a sua futura esposa tenha mais terras do que nós... E depois, ela fuma como uma chaminé!”
Mais tarde, Thérèse diz para Anne:
“- Minha cabeça está cheia de ideias. É isso que me dá medo, não o casamento com seu irmão, Annette. O casamento vai me salvar dessa desordem na cabeça. Escolhi a paz.”
Mas o casamento vai cobrar, cada dia, que ela esqueça de ter uma vida individual, já que pertencia à família do marido.
Será que o romance proibido da agora cunhada Anne com o belo rapaz português, que mora em Paris, e é judeu, mexeu com Thérèse?
É ela que é mandada pela família para falar com o rapaz para que termine o namoro. E escuta dele (Stanley Weber):
“- Mas eu nunca pensei em casamento! Anne teve a chance de amar o homem de sua vida. Depois ela vai se casar como você, como qualquer mulher da província.”
Thérèse, que sempre fora pálida, vai ficando mais fria e distante. Só os olhos, vivos e atentos, parecem procurar uma saída.
Quando a filha nasce, ela não é maternal nem se preocupa em cuidar do bebê.
Sua cabeça fervilhava de ideias malsãs.
Uma aparente placidez escondia uma turbulência interna perigosa, delirante, que buscava uma libertação daquela prisão onde ela se sentia fenecer.
Audrey Tautou, 36 anos, está maravilhosa na pele dessa mulher que conquista seu espaço pagando um preço muito alto.
Claude Miller, que morreu antes de ver seu filme nas telas, adaptou o livro de 1927, escrito por François Mauriac (1885-1970), prêmio Nobel de literatura.
Quem leu o livro, que dizem ser sombrio, percebe que o diretor não concorda com a punição e o desprezo que o escritor reservava para sua personagem Thérèse. Claude Miller disse a Audrey Tautou que queria fazer um filme feminista e foi com esse viés que dirigiu “Thérèse D.” Percebe-se que ele sente simpatia por essa mulher aprisionada por costumes rígidos e uma tradição cruel que dava pouca importância aos desejos de afirmação das mulheres que viveram naquela época.
Uma bela fotografia e minuciosa direção de arte são um atrativo a mais nesse interessante filme de época.

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