domingo, 21 de abril de 2013

Hoje



“Hoje”- Brasil, 2011
Direção: Tata Amaral

Sabemos que a cidade é São Paulo e o ano 1998. Mas não temos a mínima ideia de quem é aquela moça (Denise Fraga) que parece feliz, abrindo a porta daquele apartamento e que, descobrindo persianas fechadas, abre todas elas, enchendo o espaço de luz.
Ela até procura a champanhe que trouxe na bolsa e faz um brinde, bebendo na garrafa:
“- Viva!”
Sobem os homens que trouxeram a mudança e lá vai ela distribuindo móveis, abrindo caixas, até flertando um pouco com um dos homens da mudança. Ela está feliz.
Toca o telefone celular e é a irmã dela:
“- Não, por enquanto não preciso de nada, Antonia. Sim! É um velho apartamento novo. Qualquer coisa te ligo. Beijos.”
Algumas notas dissonantes indicam que ela vai ter que arrumar umas coisinhas: a torneira da cozinha, uma janela que não abre direito, o fogão não passa pela porta do apartamento...
E a síndica, vizinha de baixo, quer conversar e alertar sobre medidas de segurança que não interessam. Ela se livra dela pedindo desculpas e fechando a porta. Vira-se e se assusta:
“- O que você está fazendo aqui?”
Olham-se intensamente, o homem e ela.
“- Estás muy linda, Ana Maria”, diz ele (Cesar Troncoso) com um sotaque em portunhol.
“- Vera”, corrige ela.
Silêncio entre os dois.
“Você não vai falar nada?” pergunta ele.
“- Você também não fala nada...” responde ela.
“- Alguém tem que falar”, diz o homem.
E recomeça aquilo que não tinha acabado. No dia da mudança, Vera percebe que está muito mais mexida do que pensara e que vai ter que enfrentar aquele homem e as lembranças difíceis que ele traz para ela.
Agora se esquivando dos homens da mudança que perguntam coisas, Vera e Luis vão ter que colocar sentimentos pesados no lugar certo.
Mexendo nas memórias reprimidas, Vera dá-se conta de que precisa lembrar-se do que aconteceu para que a vida possa seguir em frente.
Tata Amaral dirige com o coração esse roteiro de Jean-Claude Bernardet, baseado no livro de Fernando Bonassi, “Prova Contrária”.
“- Rasgo o meu coração em todos os filmes, mas este é o mais íntimo”, confessa ela, que passou por coisas que a personagem de Denise Fraga também conheceu. A diretora concebeu seu filme à luz de suas próprias lembranças de vida, apesar de não ter vivenciado o período da ditadura militar no Brasil, porque era uma criança pequena naquela época.
“Hoje” traz à tona o tema dos “desaparecidos”, ligado às torturas e mortes nos porões da ditadura militar e com o que aconteceu às pessoas que tiveram que enfrentar as consequências de tudo isso.
Esse drama político, que também é uma história de amor, ganhou seis prêmios no Festival de Brasilia de 2011: melhor filme, melhor direção de arte para Vera Hamburguer, melhor fotografia para Jacob Solitrenick, melhor roteiro para Jean-Claude Bernadet, Rubens Ewald e Felipe Sholl, melhor atriz para Denise Fraga e melhor longa para a crítica.
Como veem, o filme é um trabalho de equipe que foi recompensado e que espera agora os aplausos de seu público nos cinemas.

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