quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Abismo Prateado



 
“O Abismo Prateado”- Brasil, 2011
Direção: Karim Ainouz

O mar à noite, ressoa em toda a sua imensidão prata e negra, quebrando em espuma de ondas brancas numa praia vazia.
Um homem solitário mergulha naquelas águas, depois olha à sua volta como se procurasse algo. Torso nu, só de sunga, atravessa, como um fantasma, as ruas de uma Copacabana iluminada pelos faróis dos carros, no trânsito pesado.
Depois, uma transa em “close”, o corpo dela sobre o dele, mas sentimos que ali não é tanto o tesão quanto a angústia, que ele trouxe com ele, que assume o comando. Vem o gozo mas não a paz para ele.
E na manhã seguinte, ela se prepara para o trabalho alheia ao que está acontecendo com ele, que se deixa rolar na cama, como se não tivesse descansado naquela noite.
“- Acorda, vai, amor. Vem tomar café com a gente. Que horas é o seu voo?”
E ele respira no escuro, buscando ar.
Quando o filho adolescente vem até o banheiro se despedir do pai, ele ensaia palavras:
“- Deixa eu falar com você...” diz puxando o filho pelo braço.
“- Você tá molhado pai”, responde o garoto se esquivando, “boa viagem.”
Está claro que nada vai bem para esse homem.
E Violeta, a bela e eficiente dentista, mulher dele, vai levar um susto durante o dia. Não com o tombo de bicicleta logo cedo mas com a mensagem que seu marido deixou gravada no celular dela.
Pequeno, delicado, enternecedor. Assim é “O Abismo Prateado”, filme dirigido por Karim Ainouz e roteirizado pelo diretor e Beatriz Bracher.
Inspirado na canção “Olhos nos Olhos” de Chico Buarque, que todo mundo conhece, conta um abandono sofrido por uma mulher.
Alessandra Negrini, atriz esplêndida, brilha no filme que é dela. E seguimos seu percurso dolorido, enquanto ela lava e faz curativos nas feridas de seu corpo por causa dos tombos que levou naquele dia, sabendo que as feridas do coração estão abertas e sangram à sua revelia.
Como é difícil passar pela rejeição... O chão falta, a dor é surda, o choro não ajuda.
Ela anda a esmo pela cidade com um olhar escuro. Nada a conforta, até que encontra outros seres humanos abandonados (Gabi Pereira e Thiago Martins) e descobre que há muitos caminhos pela vida que valem a pena ser trilhados. Entendendo isso, a ferida no coração de Violeta começa a cicatrizar. E ela termina esse dia tomando um sorvete enquanto o sol nasce em Copacabana.
Procure essa memória afetiva dentro de você e vá recordá-la nesse filme lindo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário