sábado, 4 de maio de 2013

O Sonho de Wadjda



“O Sonho de Wadjda”- “Wadjda” Arábia Saudita/ Alemanha, 2011
Direção: Haifaa Al Mansour


Ela só queria ter uma bicicleta. Um sonho comum de qualquer menina da idade dela. Mas lá onde Wadjda vive, só meninos podem andar livremente de bicicleta, entre outras coisas que só meninos e homens podem fazer.
Mas ela é teimosa e quando quer uma coisa, sai da frente, como diria sua mãe.
Não podendo esperar ganhar dos pais esse presente, que meninas de bem não cobiçam, ela tratou de arranjar dinheiro para a bicicleta. Sabendo de um concurso na escola para ver quem é a melhor estudante do Corão, livro sagrado dos muçulmanos e mais, que o prêmio era em dinheiro, ela não hesita. Dedica-se ao estudo como se fosse uma religiosa fanática.
E faz o homem da loja prometer que a bicicleta verde está reservada para ela. Todo dia passa por lá, para acariciar o guidão enfeitado com fitas.
O amiguinho da menina, que a ensina a andar de bicicleta, ainda não tinha se tornado um homem que olha as mulheres de cima, como o pai de Wadjda. Um dia, ele até disse, com olhos de admiração, que quando crescesse ia se casar com ela.
Abdullah faz a gente pensar que algo pode mudar na Arábia Saudita se meninas como Wadjda conseguirem se impor. Quem sabe?
Aliás, a diretora do filme “Um Sonho de Wadjda”, Haifaa Al Mansour, foi uma dessas meninas. Pioneira, lutou contra os preconceitos e a tradição machista e conseguiu tornar-se a primeira mulher da Arábia Saudita a fazer um filme de ficção, rodado em Riad, capital do país. Ela, que tem mestrado em direção e estudos de cinema na Universidade de Sydney, Austrália, já tinha assinado quatro documentários antes de “Um Sonho de Wadjda”.
É um filme corajoso. Mostra a vida no país como ela é. Sem disfarces, aponta o lugar inferior reservado às mulheres e denuncia como é difícil mudar essa tradição, sem plantar na mente das meninas e mulheres que elas tem direitos pelos quais podem lutar, sem ter forçosamente que bater de frente com a religião.
Cada cultura tem os seus preconceitos que, aos olhos de um estrangeiro, podem parecer ridículos ou até ofensivos. Mas, se alguém, de dentro dessa cultura aspira por mudanças, por que não? Será só uma questão de tempo.
E claro, de persistência de muitas Wadjdas.
E parece que isso já está acontecendo porque está na cara que esse é o sonho da diretora desse belo filme que enternece até os corações mais duros.

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