Direção: Baz Luhrmann
Será que sonhos podem tornar-se pesadelos? E alguém pode
reviver o passado? O que faz o amor renascer?
Essas são as perguntas que estão no cerne da história
contada por F. Scott Fitzgerald (1896-1940) em “O Grande Gatsby”, seu famoso
livro de 1926, que já foi vivido no cinema por cinco elencos diferentes e seus
diretores. A última adaptação, mais presente na memória das pessoas, tinha
Robert Redford e Mia Farrow e foi sucesso de público mas teve críticas
mistas.
A
nova versão que tem Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan é muito diferente das
outras. O realizador de “Moulin Rouge!” recria alguns dos climas vistos ali, no
mesmo espírito de fantasia que fez a fama de Baz Luhrmann e marcou a carreira de
Nicole Kidman.
O
diretor australiano escolheu uma narrativa que vai do conto de fadas ao clima de
cabaré e filme “noir”, em uma estética neo-barroca que pode não agradar a mentes
mais conservadoras.
A
outros vai justamente divertir porque há uma intenção de acompanhar as artes
plásticas contemporâneas, com alusões a caricaturas, quadrinhos e excessos
carnavalescos. Os malabarismos com a câmara e o 3D são usados de maneira
criativa e ajudam na criação dos estados de alma dos
personagens.
A
cena que apresenta Daisy Buchanan à plateia é de ficar na memória para sempre:
cortinas esvoaçam, um braço emerge do sofá, um diamante perfeito no dedo. É
Carey Mulligan, divertida, sestrosa, mimada. Vestida por Prada e Miu Miu com
brilhos, rendas, transparências e franjas de cristal, ela encanta com a raposa
azul emoldurando seu rosto e jóias no cabelo curto nas cenas da festa na casa de
Gatsby.
O
narrador e testemunha de todas as reviravoltas da história é Toby Maguire, que
faz Nick Carraway, primo de Daisy. Como sempre, Toby Maguire é o excelente ator
que ajuda na criação de um clima exagerado em torno aos personagens, todos
excessivos.
O
marido de Daisy,Tom Buchanan, vivido com brilho por Joel Edgerton, é o herdeiro
milionário, presunçoso e preconceituoso, além de egoísta ao extremo. Ele e Daisy
são a elite endinheirada que se considera acima das leis e da moral. Dão o tom
dos “alucinados anos 20” que antecederam à famosa crise de
29.
Leonardo DiCaprio cria um Jay Gatsby com um charme mais
infantil do que Robert Redford mas com nuances depressivas. Está ótimo no papel,
expressando bem a mania de grandeza, a inadequação e os delírios do personagem,
assim como dá vazão ao seu romantismo e ingenuidade
pueris.
Sempre à procura de algo que lhe escapa, Gatsby é uma
figura angustiada e maníaca mas também sedutor e atraente. Uma mistura
irresistível para o lado mais infantil e aventureiro de
Daisy.
Ao
som de Gershwin, jazz, “Let’s Misbehave” e a bela canção original “Young and
Beautiful” cantada por Lana Del Rey, as cenas vão se desenrolando frenéticas até
o momento da tragédia. Aí o ritmo da narrativa muda e a fachada estética não
desaparece mas cede lugar a uma realidade mais sombria.
Aposto que “O Grande Gatsby” que está prometido para 7
de junho nos cinemas, vai agradar às plateias brasileiras assim como fez com os
franceses, que aplaudem o filme no final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário