Direção: Robert
Redford
Meninos americanos
morriam lá longe, na selva asiática, entre 1965 e 1973. Voltavam em sacos
negros. Ou o que restou deles.
Todos os dias os
americanos ouviam notícias sobre aquela guerra travada “em nome da liberdade e
da democracia” e sentiam orgulho pelos meninos mortos por uma causa nobre.
Mas, depois de um tempo,
relatos dos massacres de civis como o de Mi Lay e de atrocidades cometidas pelos
soldados, fotografadas e filmadas, levaram a surgir vozes dissonantes dentro da
própria sociedade americana, a chamada contra-cultura.
Os “Weathermen
Underground” foi um grupo radical anti-guerra e de esquerda, batizado por uma
canção de Bob Dylan e formado por jovens estudantes, que atuou entre 1969 e
metade dos anos 70. Traziam a guerra aos Estados Unidos para acordar o país e
fazer com que as pessoas pressionassem o governo a terminar com a guerra.
Colocavam bombas em edifícios públicos mas avisavam antes para que ninguém se
ferisse. A mais famosa delas foi colocada nada menos que no Capitólio.
Assaltavam bancos mas não usavam armas para matar.
É disso que trata o novo
e nono filme de Robert Redford como ator e diretor.
Carismático, com posições
políticas liberais, ele sempre foi um homem bonito e inteligente que encantou
plateias em filmes inesquecíveis como “Butch Cassidy e Sundance Kid”(1969). Quem
não se lembra de “Out of Africa”(1985) ou mesmo de “O grande Gatsby”(1974) e “Todos
os Homens do Presidente”(1976)?
Como diretor, Robert
Redford ganhou um Oscar por “Gente como a Gente”(1980), filme tocante e
iconoclasta.
Desde os anos 80, ele
dirige o Sundance Institute que promove o Festival Sundance que apoia novos
cineastas e filmes independentes. E continua políticamente
ativo.
Com toda essa bagagem,
Robert Redford, 76 anos, surpreende em seu novo filme, “Sem Proteção”, porque
vai refletir sobre o passar do tempo e colocar uma questão interessante: filhos
mudam as pessoas?
Jim Grant, interpretado
pelo próprio diretor, é um advogado que defende causas de direitos civis e mora
numa cidadezinha tranquila dos Estados Unidos. É viúvo recente e cuida
amorosamente da filha de 12 anos. Ninguém diria que aquele homem pacato foi um
ativista dos Weathermen e é procurado há 30 anos pelo FBI por causa de um
assalto a banco que causou a morte de um policial.
Quando Susan Sarandon,
que interpreta uma ex-ativista do mesmo grupo que se envolveu no assalto, se
entrega à polícia, Jim Grant vai ter que defender sua própria causa. Sua
identidade verdadeira vem à tona, descoberta por um jovem repórter inescrupuloso
e esperto(Shia LaBoeuf).
Pensando na filha, ele
tem que provar sua inocência e vai à procura de pessoas de seu passado. Nessa
viagem pelo país ele encontra seus ex-companheiros, todos na clandestinidade
(Nick Nolte, Richard Jenkins e Julie Christie).
A grande força do filme
não está no enredo mas sim no elenco de peso que Redford reuniu. Atores que
envelheceram mas que mantém seu carisma na tela.
O próprio Redford não tem
medo de filmar a si mesmo cansado e envelhecido. A idade pesa para todos mas o
brilho próprio de uma pessoa permanece quando ela é fiel a si mesma e à sua
verdade.
Essa é uma lição de vida
que esse filme nos ensina.
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