quinta-feira, 30 de maio de 2013

Sem Proteção






“Sem Proteção”- “The Company You Keep”, Estados Unidos 2012
Direção: Robert Redford

Meninos americanos morriam lá longe, na selva asiática, entre 1965 e 1973. Voltavam em sacos negros. Ou o que restou deles.
Todos os dias os americanos ouviam notícias sobre aquela guerra travada “em nome da liberdade e da democracia” e sentiam orgulho pelos meninos mortos por uma causa nobre.
Mas, depois de um tempo, relatos dos massacres de civis como o de Mi Lay e de atrocidades cometidas pelos soldados, fotografadas e filmadas, levaram a surgir vozes dissonantes dentro da própria sociedade americana, a chamada contra-cultura.
Os “Weathermen Underground” foi um grupo radical anti-guerra e de esquerda, batizado por uma canção de Bob Dylan e formado por jovens estudantes, que atuou entre 1969 e metade dos anos 70. Traziam a guerra aos Estados Unidos para acordar o país e fazer com que as pessoas pressionassem o governo a terminar com a guerra. Colocavam bombas em edifícios públicos mas avisavam antes para que ninguém se ferisse. A mais famosa delas foi colocada nada menos que no Capitólio. Assaltavam bancos mas não usavam armas para matar.
É disso que trata o novo e nono filme de Robert Redford como ator e diretor.
Carismático, com posições políticas liberais, ele sempre foi um homem bonito e inteligente que encantou plateias em filmes inesquecíveis como “Butch Cassidy e Sundance Kid”(1969). Quem não se lembra de “Out of Africa”(1985) ou mesmo de “O grande Gatsby”(1974) e “Todos os Homens do Presidente”(1976)?
Como diretor, Robert Redford ganhou um Oscar por “Gente como a Gente”(1980), filme tocante e iconoclasta.
Desde os anos 80, ele dirige o Sundance Institute que promove o Festival Sundance que apoia novos cineastas e filmes independentes. E continua políticamente ativo.
Com toda essa bagagem, Robert Redford, 76 anos, surpreende em seu novo filme, “Sem Proteção”, porque vai refletir sobre o passar do tempo e colocar uma questão interessante: filhos mudam as pessoas?
Jim Grant, interpretado pelo próprio diretor, é um advogado que defende causas de direitos civis e mora numa cidadezinha tranquila dos Estados Unidos. É viúvo recente e cuida amorosamente da filha de 12 anos. Ninguém diria que aquele homem pacato foi um ativista dos Weathermen e é procurado há 30 anos pelo FBI por causa de um assalto a banco que causou a morte de um policial.
Quando Susan Sarandon, que interpreta uma ex-ativista do mesmo grupo que se envolveu no assalto, se entrega à polícia, Jim Grant vai ter que defender sua própria causa. Sua identidade verdadeira vem à tona, descoberta por um jovem repórter inescrupuloso e esperto(Shia LaBoeuf).
Pensando na filha, ele tem que provar sua inocência e vai à procura de pessoas de seu passado. Nessa viagem pelo país ele encontra seus ex-companheiros, todos na clandestinidade (Nick Nolte, Richard Jenkins e Julie Christie).
A grande força do filme não está no enredo mas sim no elenco de peso que Redford reuniu. Atores que envelheceram mas que mantém seu carisma na tela.
O próprio Redford não tem medo de filmar a si mesmo cansado e envelhecido. A idade pesa para todos mas o brilho próprio de uma pessoa permanece quando ela é fiel a si mesma e à sua verdade.
Essa é uma lição de vida que esse filme nos ensina.

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