Direção: Thomas
Vinterberg
Lucas é corajoso, amável
e generoso. O filme mostra isso desde o início porque começa com alguém se
afogando num lago gelado, onde um grupo de homens mergulhou por prazer. Ele se
atira de roupa e tudo e traz o amigo.
Mas Lucas é também um
homem atraente, apesar de já não ser tão jovem, e é o único macho que trabalha
numa escolinha para crianças pequenas, que o adoram. Está separado da mulher,
que não o valoriza e tem saudades do filho, de quem não tem a guarda. Começa um
namoro com uma moça estrangeira que também trabalha na escola.
Os ciúmes de uma criança
vão transformar a vida dele num inferno.
E o mais patético de
tudo isso é o fato que levou ao massacre de um homem íntegro.
Klara, filha do melhor
amigo de Lucas (Annika Wederkopp, de 5 anos, mas já uma atriz maravilhosa), tem
uma paixão infantil por Lucas e sente-se rejeitada porque ele é carinhoso mas
firme quando ela se joga sobre ele e o beija na boca.
“- Klara, você não
deveria beijar ninguém na boca...”
E acrescenta que o
presente colocado no bolso de seu casaco deve ser dado à mãe
dela.
Os pais de Klara muitas
vezes se atrasavam ou esqueciam de pegar a menina na escola. Foi o que aconteceu
naquele dia.
A diretora pergunta o
que está fazendo sozinha no escuro e Klara repete palavras que ouviu de seu
irmão mais velho mas que, na verdade, não compreende.
E tudo começa a
desmoronar para Lucas.
“- Crianças não mentem”,
é a certeza da diretora.
E o psicólogo chamado,
ajuda a induzir a menina a respostas mudas, só com a cabeça. Daí a toda a
comunidade colocar o rótulo de pedófilo em Lucas e começar a persegui-lo como se
ele fosse uma fera, é só um passo.
A interpretação de Mads
Mikkelsen (de “O Amante da Rainha”) é extraordinária, com nuances de expressão
faciais perfeitas. Mereceu o prêmio que ganhou como melhor ator em Cannes no ano
passado.
“A Caça” é um filme que
toca a todos nós. Quem nunca jogou a primeira pedra? Vinterberg conduz seu filme
com sobriedade, sem maniqueísmos e mostrando com clareza do que é capaz a
natureza humana.
Pedofilia é tabu. Crime
punido severamente não só pela lei mas também pelos próprios membros da
comunidade onde acontece. No Brasil sabemos a triste sorte dessas pessoas quando
são presas. E, mesmo quando inocentes, tudo pode apontar no sentido contrário.
Basta lembrar do triste episódio ocorrido em São Paulo na Escola Base, onde
todos os acusados eram inocentes mas tiveram suas vidas
destruídas.
O clima de histeria
coletiva que se instala na longínqua Dinamarca, é o mesmo que pode acontecer em
qualquer lugar do mundo. Por que? Quanto mais condenado é um desejo, mais
pessoas vão perseguir cruelmente quem eles acham que é o culpado. É como se
dissessem: “É proibido para todos. Como ousas?”
A repressão intensa não
deixa que se pense melhor sobre o acontecido e cobra que todos se
vinguem.
Em um país onde todos os
homens ganham um rifle como ritual de passagem para a vida adulta, Lucas passa
de caçador a caça.
Uma bela fotografia
tenta repousar nossa alma.
“A Caça”é um filme
magnífico e perturbador que mexe com nossas certezas.
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