“A Caverna dos Sonhos
Esquecidos”- “Cave of Forgotten Dreams”, França, Estados Unidos, Alemanha,
2010
Direção: Werner
Herzog
Quer fazer uma viagem no
tempo? Visitar o homem pré-histórico que habitou a região de Vallon-Pont-D’Arc
no sul da França, no vale do rio Ardèche?
Mais. Quer experimentar o
que Jean Marie Chauvet e outros dois exploradores sentiram quando, em dezembro
de 1994, penetraram num buraco e cavaram até chegar dentro de uma caverna?
A tocha de Chauvet,
apontada para as paredes de rocha fez com que ele exclamasse:
“- Eles estiveram
aqui!”
Imaginamos a emoção
daquele que deu o seu nome à caverna, e seus companheiros, quando viram os
desenhos, mais de 400, que enfeitam as paredes em meio às marcas das garras de
ursos, principais habitantes do lugar e cujos crânios, enfeitados por cristais
brilhantes, jazem no chão atapetado de estalactites e estalagmites, entre
pegadas humanas e animais, ossos e restos das tochas dos que penetraram na
caverna. Tudo recoberto por um tecido brilhante de água e rocha cristalizada.
Para nosso espanto e
maravilha, entramos com o cineasta alemão Werner Herzog, 70 anos (diretor dos
conhecidos “Nosferatu” 1979 e “Fitzcarraldo” 1982), pela porta de aço que veda o
acesso à caverna.
Sua entrada principal foi
selada pelas pedras que caíram durante um terremoto há 25.000 anos. Isso fez com
que a caverna se tornasse uma cápsula do tempo, contendo intactas as pinturas
ruprestres mais antigas de que se tem notícia, de 30 a 32.000 anos
atrás.
É um privilégio, já que
turistas não são permitidos aqui. Herzog obteve uma licença especial do governo
francês e conseguiu filmar os desenhos, iluminados com três focos de luz e uma
pequena máquina 3D, manejada por Peter Zeitlinger.
Herzog e seu pequeno
grupo são vistos durante a filmagem andando em fila indiana por uma estreita
passarela. É proibido sair desses limites.
As cenas nos comovem e
emudecem porque os desenhos realizados com perícia e arte, com pedaços de
carvão, estão lá preservados como no dia em que foram feitos.
Cavalos com suas crinas
espessas, bisões em manada, enormes mamutes, leões das cavernas sem juba,
rinocerontes com longos chifres, ursos, antílopes, alces e um único leopardo, se
mostram aos nossos olhos em dimensões e proporções que o artista conseguiu criar
aproveitando as reentrâncias e os volumes da rocha.
O que dizer do cavalo que
parece relinchar com sua boca aberta? Ou do casal de leões que jaz a um canto
com a fêmea roçando seu flanco no macho? E os rinocerontes em luta com seus
chifres se batendo e cascos em fúria, projetados para a frente? Ou ainda na
rocha que pende do teto ostentando o único desenho de um ser humano, uma Vênus
ancestral?
E o que pensar sobre o
conjunto de pedras arranjadas como um altar, encimado por um crânio de um urso,
em face à entrada da caverna?
E pasmem. Werner Herzog,
nosso anfitrião e narrador em “off”, alude a um proto-cinema quando nos mostra
as várias patas de um bisão que dão aos nossos olhos a impressão de
movimento.
Nas entrevistas com
espeleólogos, arqueólogos, antropólogos e outros cientistas que mapeiam e
estudam a caverna, há alusão ao nascimento do homem como o conhecemos, o “homo
sapiens” que, naquela época, convivia com os Neandertais, que não deixaram
nenhuma marca artesanal.
O passado remoto está ali
e a alma dos nossos antepassados nos espreita nos traços que
deixaram.
“A Caverna dos Sonhos
Esquecidos” é um testemunho imperdível da história do homem e uma aula de arte
magnífica.
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