domingo, 3 de março de 2013

Hitchcock

“Hitchcock”- Idem, Estados Unidos, 2012
Direção:Sacha Gervasi


Não foi fácil tornar-se o diretor de um dos filmes mais cultuados de todos os tempos, “Psicose” (1960), que custou U$800.000 ao próprio Hitchcock e rendeu mais de 50 milhões de dólares.
A cena do chuveiro com Janet Leigh, em preto e branco, é dessas imagens do cinema que ninguém esquece, a trilha sonora de Bernard Hermann marcando com um som estridente e repetido, o ritmo das facadas, que são sugeridas com tanta realidade pela montagem, que todo mundo pensa que viu mesmo Norman esfaqueando a loura de touca de banho.
Alfred Hitchcok (1899-1980) tinha 60 anos quando sua estrela brilhou mais forte. Dono de um programa de TV nos anos 1955 a 1962, em preto e branco, onde aparecia introduzindo suas histórias de suspense, ficou mundialmente conhecido. Mas a sua produção como diretor em Hollywood já era extensa e bem sucedida. Filmes como “Rebeca, a Mulher Inesquecível” (1940), “Festim Diabólico” (1948), ”O Homem que Sabia Demais” (1956), “Um Corpo que Cai”(1958), colocaram ele entre os diretores mais bem pagos daquela época.
Mas, depois da estreia de “Intriga Internacional” (1959), diretores mais jovens começaram a ocupar mais espaço na imprensa.
É aí que começa o filme “Hitchcock”, do diretor inglês estreante Sacha Gervasi, 46 anos.
Baseado no livro “Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose” de Stephen Rebello, 62, o filme tem Anthony Hopkins fazendo Hitch, com próteses no rosto e barrigão postiço, para ficar parecido com o diretor, mas que infelizmente engessaram o ator. E tem também a talentosa Helen Mirren como sua mulher Alma (1926-1982) com quem ficou casado por 54 anos.
Scarlett Johansson faz Janet Leigh, a estrela de “Psicose” e, numa ponta, Jessica Biel aparece como Vera Miles, irmã da loura principal.
Na verdade, Vera Miles havia desistido do papel principal de “Um Corpo que Cai” e foi substituída por Kim Novak. Hitch nunca a perdoou por trocá-lo para ter um bebê e dedicar-se à família.
Um dos traços do diretor era o tom cruel com que dirigia suas atrizes, “louras frias”, para delas tirar o melhor, desculpava-se ele.
Sua mulher Alma sabia de sua fixação pelas atrizes de seus filmes e Helen Mirren está magnífica no papel da esposa que intui o que acontece mas não deixa o palco, onde atua como a eminência parda por detrás do gênio, ajudando-o em quase todos os roteiros que ele filma.
O relacionamento entre eles era infantil e Hitch dependia dela como de uma mãe, amada e odiada. Seus ciúmes por ela eram doentios.
Aliás, essa personalidade de traços sombrios, violentos mesmo, mesclados a uma insegurança e dependência de uma mulher, que ficava oculta, faz Hitchcock ficar fascinado pelo livro de Robert Bloch “Psycho”, que conta a história de um “serial killer” de mulheres, Ed Gein, que inspirou o personagem Norman Bates, interpretado por Anthony Perkins em “Psicose”.
Não por acaso, tanto Ed (que aparece no filme em cenas de delírio de Hitch) quanto Norman, dois incestuosos, eram homens com problemas sexuais e mentes doentias.
O diretor de “Hitchcock” diz sobre “Psicose”:
“Foi um fenômeno mundial. Eu acho que todo mundo que viu “Psicose” como eu, quando era mais jovem, sofreu um grande impacto. O lado negro e a violência eram chocantes.”
Bem, se esse não é o filme definitivo sobre o mestre do suspense, é porque Hitchcock guarda ainda muito para nos contar sobre sua genialidade difícil. Outros filmes ainda virão.

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