Direção:Sacha
Gervasi
Não foi fácil tornar-se o
diretor de um dos filmes mais cultuados de todos os tempos, “Psicose” (1960),
que custou U$800.000 ao próprio Hitchcock e rendeu mais de 50 milhões de
dólares.
A cena do chuveiro com
Janet Leigh, em preto e branco, é dessas imagens do cinema que ninguém esquece,
a trilha sonora de Bernard Hermann marcando com um som estridente e repetido, o
ritmo das facadas, que são sugeridas com tanta realidade pela montagem, que todo
mundo pensa que viu mesmo Norman esfaqueando a loura de touca de
banho.
Alfred Hitchcok
(1899-1980) tinha 60 anos quando sua estrela brilhou mais forte. Dono de um
programa de TV nos anos 1955 a 1962, em preto e branco, onde aparecia
introduzindo suas histórias de suspense, ficou mundialmente conhecido. Mas a sua
produção como diretor em Hollywood já era extensa e bem sucedida. Filmes como
“Rebeca, a Mulher Inesquecível” (1940), “Festim Diabólico” (1948), ”O Homem que
Sabia Demais” (1956), “Um Corpo que Cai”(1958), colocaram ele entre os diretores
mais bem pagos daquela época.
Mas, depois da estreia de
“Intriga Internacional” (1959), diretores mais jovens começaram a ocupar mais
espaço na imprensa.
É aí que começa o filme
“Hitchcock”, do diretor inglês estreante Sacha Gervasi, 46
anos.
Baseado no livro “Alfred
Hitchcock e os Bastidores de Psicose” de Stephen Rebello, 62, o filme tem
Anthony Hopkins fazendo Hitch, com próteses no rosto e barrigão postiço, para
ficar parecido com o diretor, mas que infelizmente engessaram o ator. E tem
também a talentosa Helen Mirren como sua mulher Alma (1926-1982) com quem ficou
casado por 54 anos.
Scarlett Johansson faz
Janet Leigh, a estrela de “Psicose” e, numa ponta, Jessica Biel aparece como
Vera Miles, irmã da loura principal.
Na verdade, Vera Miles
havia desistido do papel principal de “Um Corpo que Cai” e foi substituída por
Kim Novak. Hitch nunca a perdoou por trocá-lo para ter um bebê e dedicar-se à
família.
Um dos traços do diretor
era o tom cruel com que dirigia suas atrizes, “louras frias”, para delas tirar o
melhor, desculpava-se ele.
Sua mulher Alma sabia de
sua fixação pelas atrizes de seus filmes e Helen Mirren está magnífica no papel
da esposa que intui o que acontece mas não deixa o palco, onde atua como a
eminência parda por detrás do gênio, ajudando-o em quase todos os roteiros que
ele filma.
O relacionamento entre
eles era infantil e Hitch dependia dela como de uma mãe, amada e odiada. Seus
ciúmes por ela eram doentios.
Aliás, essa personalidade
de traços sombrios, violentos mesmo, mesclados a uma insegurança e dependência
de uma mulher, que ficava oculta, faz Hitchcock ficar fascinado pelo livro de
Robert Bloch “Psycho”, que conta a história de um “serial killer” de mulheres,
Ed Gein, que inspirou o personagem Norman Bates, interpretado por Anthony
Perkins em “Psicose”.
Não por acaso, tanto Ed
(que aparece no filme em cenas de delírio de Hitch) quanto Norman, dois
incestuosos, eram homens com problemas sexuais e mentes
doentias.
O diretor de “Hitchcock”
diz sobre “Psicose”:
“Foi um fenômeno mundial.
Eu acho que todo mundo que viu “Psicose” como eu, quando era mais jovem, sofreu
um grande impacto. O lado negro e a violência eram chocantes.”
Bem, se esse não é o
filme definitivo sobre o mestre do suspense, é porque Hitchcock guarda ainda
muito para nos contar sobre sua genialidade difícil. Outros filmes ainda
virão.
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