Direção: Joe
Wright
A primeira imagem do
filme é a cortina no painel, pintada de vermelho no veludo e ouro nos bordados,
réplica da que existe no Opéra Garnier, em Paris. Estamos em 1874, na Rússia
Imperial.
E o espetáculo começa
como um “vaudeville”, em que vários personagens se apresentam no palco em cenas
curtas e com um quê de farsa.
Em sua primeira aparição
como Anna Karenina, a bela Keira Knightley tem um anel de brilhantes, em
“close”, colocado em seu dedo, enquanto ela lê uma carta e toma café, sendo
vestida pelas criadas. E surge o primeiro vestido, de seda cor de ameixa, gola
alta e saia farta com a cintura marcada. Todos os holofotes brilham sobre
ela.
“- Ah! Stiva...”, exclama
com um meio sorriso de desaprovação, fechando a carta.
E em seu escritório, o
marido, Alexei Karenin, interpretado com gravidade por Jude Law, diz a
ela:
“ - Não o desculpe só
porque ele é seu irmão.”
Leon Tolstoi, um dos
grandes escritores russos, nos coloca no princípio de sua história o tema que
propõe: infidelidade conjugal.
E, enquanto Anna tende a
ser mais condescendente, o marido já mostra sua severidade. E este vai ser o
drama, numa sociedade onde as regras, os costumes, são mais importantes que as
leis.
O modo teatral com que o
diretor Joe Wright (“Orgulho e
Preconceito” 2005 e “Desejo e Reparação” 2007) imaginou sua Karenina,
fotografado com perícia por Seamus McGarvey, faz com que se acentue o
artificialismo da alta sociedade da época, vivendo já o começo de sua derrocada.
Tom Stoppard, o roteirista, não precisou alterar nada do que havia escrito para
que fosse possível a encenação do diretor.
E é estupenda a transição
do artificial/teatral para o naturalismo do campo russo onde vive Levin (na pele
de Domhnall Gleeson), o alter-ego de Tolstoi, que se preocupa em encontrar novos
valores para sua vida. Como num sonho, o palco se abre para uma planície gelada
onde brilha o sol em contraste com os holofotes do palco. Uma “dacha” de madeira
e o patrão ceifando o campo junto a seus camponeses, enquanto sonha com sua
Kitty (a adorável atriz sueca Alicia Vikander que fez “O Amante da Rainha”
2011).
Joe Wright apenas sugere
o momento político, para privilegiar o estético e o sentimental, o que tanto
pode ser seu “calcanhar de Aquiles” para alguns, como o seu ponto forte para
outros. Afinal, o romance de Tolstoi e sua pobre heroína já foram vistos e
revistos em dezenas de adaptações para o palco e para a tela. Greta Garbo,
Vivien Leigh e Sophie Marceau, para só citar as melhores e mais famosas, viveram
Anna e seu drama.
Joe Wright inova com Keira Knightley. A beleza, sensualidade e o luxo estão em primeiro plano.
Uma festa para os olhos, embalada pela trilha de valsas de Dário
Marinelli.
Anna K. por Chanel,
ostenta joias preciosas e ao gosto do século XXI, enquanto seus vestidos, que
valeram o Oscar e o Bafta para Jaqueline Durran, são chics e femininos, com
saias amplas mas sem exageros de época, atuais, com destaque para as golas de
pele e os chapéus pequenos, plumas na cabeça e véu de renda sobre o
rosto.
E, se o Conde Vronsky (o
fraco Aaron Taylor-Johnson) serve apenas como pretexto para Anna seguir seus
impulsos auto-destrutivos, tudo é embalado com arte e sedução. A cena do
piquenique na floresta, os dois de branco, deitados numa toalha sobre a grama
fresca, tem o “close” de uma língua rosada que roça a boca do amante e passa o
gosto de uma sensualidade infantil e sem problemas, que Anna busca e não
encontra em seu casamento.
Anna K. ama o amor. E não
hesita em entrar em choque com os preconceitos. Parece, antes, ávida para viver
a vida num rodopio.
Belíssima, a cena do
baile, com sua coreografia de ballet, enfatiza o sonho de Anna de viver o desejo
sem pensar nas consequências.
O preço a pagar será
alto.
Tolstoi inicia seu
romance com uma frase bem conhecida: “Todas as famílias felizes são iguais. As
infelizes o são, cada uma à sua maneira”.
Anna ilustra a segunda
opção e Levin com Kitty a primeira. Para contar sua história e provar sua tese,
Leon Tolstoi imaginou a frágil Anna e a eternizou, como o símbolo do perigo de
entregar-se à ilusão que idealiza o amor.
Muitos de nós já passaram
por essa pena. Vale rever essa nova versão.
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