sexta-feira, 8 de março de 2013

Atrás da Porta

“Atrás da Porta”- “The Door”, Hungria, Alemanha, 2012
Direção: Istvan Szabó

O amor tem muitas faces. Algumas difíceis de reconhecer.
Em “Atrás da Porta”, do diretor húngaro Istvan Szabó, falado em inglês, um sentimento raro se esconde atrás de um rosto severo e gestos secretos.
Estamos nos anos 60 em Budapeste e um casal se muda para um bairro residencial de casas simples, árvores e jardins campestres.
Ela (Martina Gedeck) é escritora e procura na vizinhança alguém para ajuda-la no trabalho doméstico, para que possa escrever em paz.
Alguém lhe indica uma senhora que cozinhava e faxinava. Morava logo em frente, num apartamento no andar térreo. Quando falou com ela, ouviu de uma pessoa zangada e olhos desconfiados:
“- Não costumo trabalhar para qualquer um. Quem são vocês?”
Louca, orgulhosa, esquisita, que mais adjetivos encontram seus vizinhos pra desqualifica-la?
O certo é que ninguém podia entrar na casa de Emerenc, a não ser Viola, o cachorrinho adotado pela escritora, que logo se tomou de amores pela criada. Só obedecia a ela e a olhava com olhos de adoração.
Mas por que Viola? Foi Emerenc que deu esse nome feminino ao cãozinho macho. Mais uma de suas excentricidades, pensou o casal que apreciava sua maneira de arrumar a casa e sua cozinha.
Só a câmara mostra os gestos de carinho de Emerenc para com sua patroa. Pratinhos com quitutes que ela preparava e deixava silenciosamente na cozinha enquanto a outra trabalhava na máquina de escrever.
Um violino toca Schumann ao fundo e vamos acompanhando o nascer de um sentimento amistoso entre as duas, patroa e empregada.
Ao marido da escritora, entretanto, não escapa a qualidade de tais pratos de porcelana deixados em sua cozinha, o que engrossa a desconfiança que ele tem sobre o passado de Emerenc na época da Segunda Guerra. Ladra? Aproveitadora do infortúnio de ricos judeus perseguidos?
O certo é que Emerenc fora educada para esconder ou mostrar pouco sua natureza generosa.
Helen Mirren, 67 anos, atriz que dispensa elogios, ganhadora do Oscar por “A Rainha”, vive Emerenc com garra e alma.
O diretor de 75 anos, de quem nos lembramos do filme “Mephisto" de 1981, inspirou-se na novela de Magda Szabó, nenhum parentesco apesar do sobrenome, e co-escreveu o roteiro com Andrea Veszits.
Uma bela história, contada com simplicidade e belas tomadas do passado, vivida por duas atrizes afinadas, que comove e nos faz pensar em sentimentos nobres escondidos em pessoas rudes.

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