Direção: Istvan Szabó
O
amor tem muitas faces. Algumas difíceis de reconhecer.
Em
“Atrás da Porta”, do diretor húngaro Istvan Szabó, falado em inglês, um
sentimento raro se esconde atrás de um rosto severo e gestos
secretos.
Estamos nos anos 60 em Budapeste e um casal se muda para
um bairro residencial de casas simples, árvores e jardins campestres.
Ela (Martina Gedeck) é escritora e procura na vizinhança
alguém para ajuda-la no trabalho doméstico, para que possa escrever em
paz.
Alguém lhe indica uma senhora que cozinhava e faxinava.
Morava logo em frente, num apartamento no andar térreo. Quando falou com ela,
ouviu de uma pessoa zangada e olhos desconfiados:
“-
Não costumo trabalhar para qualquer um. Quem são
vocês?”
Louca, orgulhosa, esquisita, que mais adjetivos encontram
seus vizinhos pra desqualifica-la?
O
certo é que ninguém podia entrar na casa de Emerenc, a não ser Viola, o
cachorrinho adotado pela escritora, que logo se tomou de amores pela criada. Só
obedecia a ela e a olhava com olhos de adoração.
Mas por que Viola? Foi Emerenc que deu esse nome
feminino ao cãozinho macho. Mais uma de suas excentricidades, pensou o casal que
apreciava sua maneira de arrumar a casa e sua cozinha.
Só
a câmara mostra os gestos de carinho de Emerenc para com sua patroa. Pratinhos
com quitutes que ela preparava e deixava silenciosamente na cozinha enquanto a
outra trabalhava na máquina de escrever.
Um
violino toca Schumann ao fundo e vamos acompanhando o nascer de um sentimento
amistoso entre as duas, patroa e empregada.
Ao
marido da escritora, entretanto, não escapa a qualidade de tais pratos de
porcelana deixados em sua cozinha, o que engrossa a desconfiança que ele tem
sobre o passado de Emerenc na época da Segunda Guerra. Ladra? Aproveitadora do
infortúnio de ricos judeus perseguidos?
O
certo é que Emerenc fora educada para esconder ou mostrar pouco sua natureza
generosa.
Helen Mirren, 67 anos, atriz que dispensa elogios,
ganhadora do Oscar por “A Rainha”, vive Emerenc com garra e
alma.
O
diretor de 75 anos, de quem nos lembramos do filme “Mephisto" de 1981,
inspirou-se na novela de Magda Szabó, nenhum parentesco apesar do sobrenome, e
co-escreveu o roteiro com Andrea Veszits.
Uma bela história, contada com simplicidade e belas
tomadas do passado, vivida por duas atrizes afinadas, que comove e nos faz
pensar em sentimentos nobres escondidos em pessoas
rudes.
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