Direção: Jean-Marc
Vallée
O luto faz agir estranhamente. Freud
dizia que, se não soubéssemos da perda que aquela pessoa sofreu, pensaríamos que
ela enlouqueceu.
Assim, Cheryl foi atrás de drogas
pesadas e sexo promíscuo quando sua mãe morreu. Queria se dopar para esquecer.
Fazia tudo na vã tentativa de não pensar na dor que
sentia.
Ela achava que não aguentaria viver sem
ela que era seu norte. Aquela que protegia os filhos de um pai brutal. A que
vivia cantando e amando as pequenas coisas da vida.
Não que muitas vezes ela não tivesse
desdenhado de seus conselhos.
A verdade é que só realizamos o tamanho
da perda quando é muito tarde.
Mas a mãe (Laura Dern, cativante) tinha
semeado bem a terra de sua filha (Reese
Witherspoon, visceral). E ela se dá conta de que está se
destruindo.
E aí começa a viagem. Ela cisma que vai
fazer a trilha que vai do México à fronteira do Canadá. Compra o guia e lá vai
Cheryl enfrentar os quase 1.700 quilometros da Pacific Crest Trail. Deserto,
montanhas, planícies áridas, florestas, neve. Paisagens deslumbrantes
(fotografia de Yves Bélanger).
Muitas vezes é penoso para o espectador
acompanhar Cheryl. Mas o caminho nos arrasta com ela.
Percebemos o medo, a dor física, a
rebeldia e a coragem de enfrentar o desafio. Mas encarando as dificuldades do
percurso, ela encontra energias até então desconhecidas. Porque a viagem mais
importante é a interna. É o conhecimento de si mesma que ela
busca.
E, finalmente, ela pode se lembrar de
tudo. E chorar.
De repente, estamos iluminados. O rosto
dela mudou. Encontrou o que tanto buscava.
Reese Witherspoon está fantástica. Ela
vive com todo o seu ser a história da verdadeira Cheryl Strayed, que perante a
enormidade da tarefa a que se propôs, grita muito e com raiva, até que a paz é
encontrada.
A presença distante de uma raposa que a
acompanha, lembra a proteção da mãe. A natureza temida torna-se amiga e ela não
está mais sozinha. Porque encontrou a mãe viva dentro dela
mesma.
O diretor Jean-Marc Vallée, 51 anos,
canadense, que dirigiu “Clube de Compras Dallas” no ano passado e ganhou três
Oscars, leva o filme com talento, atento ao rosto expressivo de sua atriz,
captando em “close” tudo que ela sente. Consegue mexer com o público do
cinema.
Eu saí
emocionada.
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