sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Livre


“Livre”- “Wild”, Canadá, 2014
Direção: Jean-Marc Vallée

O luto faz agir estranhamente. Freud dizia que, se não soubéssemos da perda que aquela pessoa sofreu, pensaríamos que ela enlouqueceu.
Assim, Cheryl foi atrás de drogas pesadas e sexo promíscuo quando sua mãe morreu. Queria se dopar para esquecer. Fazia tudo na vã tentativa de não pensar na dor que sentia.
Ela achava que não aguentaria viver sem ela que era seu norte. Aquela que protegia os filhos de um pai brutal. A que vivia cantando e amando as pequenas coisas da vida.
Não que muitas vezes ela não tivesse desdenhado de seus conselhos.
A verdade é que só realizamos o tamanho da perda quando é muito tarde.
Mas a mãe (Laura Dern, cativante) tinha semeado  bem a terra de sua filha (Reese Witherspoon, visceral). E ela se dá conta de que está se destruindo.
E aí começa a viagem. Ela cisma que vai fazer a trilha que vai do México à fronteira do Canadá. Compra o guia e lá vai Cheryl enfrentar os quase 1.700 quilometros da Pacific Crest Trail. Deserto, montanhas, planícies áridas, florestas, neve. Paisagens deslumbrantes (fotografia de Yves Bélanger).
Muitas vezes é penoso para o espectador acompanhar Cheryl. Mas o caminho nos arrasta com ela.
Percebemos o medo, a dor física, a rebeldia e a coragem de enfrentar o desafio. Mas encarando as dificuldades do percurso, ela encontra energias até então desconhecidas. Porque a viagem mais importante é a interna. É o conhecimento de si mesma que ela busca.
E, finalmente, ela pode se lembrar de tudo. E chorar.
De repente, estamos iluminados. O rosto dela mudou. Encontrou o que tanto buscava.
Reese Witherspoon está fantástica. Ela vive com todo o seu ser a história da verdadeira Cheryl Strayed, que perante a enormidade da tarefa a que se propôs, grita muito e com raiva, até que a paz é encontrada.
A presença distante de uma raposa que a acompanha, lembra a proteção da mãe. A natureza temida torna-se amiga e ela não está mais sozinha. Porque encontrou a mãe viva dentro dela mesma.
O diretor Jean-Marc Vallée, 51 anos, canadense, que dirigiu “Clube de Compras Dallas” no ano passado e ganhou três Oscars, leva o filme com talento, atento ao rosto expressivo de sua atriz, captando em “close” tudo que ela sente. Consegue mexer com o público do cinema.
Eu saí emocionada.

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