Direção: Arnaud de Pallières
É raro vermos um filme como
esse.
Adaptação de um romance escrito em 1810 pelo alemão
Heinrich Von Kleist (1777-1811), lançado no Brasil pela Civilização Brasileira,
faz o público viver o ambiente do século XVI na Europa.
Quase sentimos o rude toque das roupas pesadas em nossa
pele, o vento no rosto ao galopar pelas colinas em meio à neblina, o cheiro dos
cavalos nas estrebarias, o calor do fogo das tochas e flechas incendiárias, o
medo e o destemor que habitam o ser
humano.
O romance colocava a ação na Alemanha, dividida em
vários estados entregues à nobreza. O filme faz a história deslocar-se para a
França, na região do Languedoc, sob a princesa Marguerite de Angoulême, Rainha
de Navarra, irmã do rei de França (Roxane Duran), uma das primeiras mulheres da
literatura francesa.
Michael Kohlhaas, um comerciante de cavalos, leva uma
tropa para a feira, quando é confrontado por um servo de um barão, que exige que
ele pague pedágio pela passagem por aquelas terras.
Indignado, porque sabe que a cobrança é ilegal, mas
cortês, Kohlhaas deixa dois cavalos negros magníficos como garantia e um de seus
servos para cuidar deles e sai em busca dos papéis
exigidos.
Quando volta, seus cavalos foram tão maltratados, assim
como seu servo, que Kohlhaas fica furioso.
Homem de princípios rígidos, ele exige reparação. E aí
começa uma disputa judicial complicada, porque o barão, homem influente, conduz
o processo a seu favor.
A mulher de Kohlhaas, Judith, bela e apaixonada pelo
atraente homem que a desposou, vai interceder por ele junto à princesa mas é
também tão maltratada pelos soldados, que morre ao voltar para casa. Sua filha
pequena Lisbeth (Mélusine Mayance) e o pai e marido amoroso, a enterram com seu
vestido novo, aos pés da casa de pedra onde habitam.
Revoltado, Kohlhaas resolve fazer justiça com as
próprias mãos. Reune um exército informal de camponeses, comerciantes e homens
sem posses e lidera uma guerra contra a cidade da princesa. Sua sede de vingança
é seu guia.
Há um encontro de Kohlhaas (que lê a Biblia traduzida)
com Lutero, onde o dissidente da Igreja Católica primeiro o condena, depois o
apoia.
O filme conta uma história sobre o conflito entre o que
um homem de princípios sente em seu interior, quando se vê injustiçado e o que
prevê a lei dos homens.
Mads Mikkelsen, o magnífico ator dinamarquês, com sua
presença carismática, não poderia ser um melhor Michael
Kohlhaas.
O diretor, Arnaud de Pallières, 53 anos, assina um filme
de uma beleza incrível, com muitos “closes” fechados sobre os rostos dos
personagens, que fazem o espectador ficar muito próximo do que se passa no
íntimo deles, além de uma reconstituição de época deslumbrante, sob uma luz
solar intensa e um escuro sombrio, que refletem com esplendor, a ambiguidade do
tema.
Raro mesmo.
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