domingo, 7 de dezembro de 2014

Michael Kohlhaas - Justiça e Honra


“Michael Kohlhaas – Justiça e Honra”- “Michael Kolhlhaas”, França, 2013
Direção: Arnaud de Pallières

É raro vermos um filme como esse.
Adaptação de um romance escrito em 1810 pelo alemão Heinrich Von Kleist (1777-1811), lançado no Brasil pela Civilização Brasileira, faz o público viver o ambiente do século XVI na Europa.
Quase sentimos o rude toque das roupas pesadas em nossa pele, o vento no rosto ao galopar pelas colinas em meio à neblina, o cheiro dos cavalos nas estrebarias, o calor do fogo das tochas e flechas incendiárias, o medo e o destemor que habitam  o ser humano.
O romance colocava a ação na Alemanha, dividida em vários estados entregues à nobreza. O filme faz a história deslocar-se para a França, na região do Languedoc, sob a princesa Marguerite de Angoulême, Rainha de Navarra, irmã do rei de França (Roxane Duran), uma das primeiras mulheres da literatura francesa.
Michael Kohlhaas, um comerciante de cavalos, leva uma tropa para a feira, quando é confrontado por um servo de um barão, que exige que ele pague pedágio pela passagem por aquelas terras.
Indignado, porque sabe que a cobrança é ilegal, mas cortês, Kohlhaas deixa dois cavalos negros magníficos como garantia e um de seus servos para cuidar deles e sai em busca dos papéis exigidos.
Quando volta, seus cavalos foram tão maltratados, assim como seu servo, que Kohlhaas fica furioso.
Homem de princípios rígidos, ele exige reparação. E aí começa uma disputa judicial complicada, porque o barão, homem influente, conduz o processo a seu favor.
A mulher de Kohlhaas, Judith, bela e apaixonada pelo atraente homem que a desposou, vai interceder por ele junto à princesa mas é também tão maltratada pelos soldados, que morre ao voltar para casa. Sua filha pequena Lisbeth (Mélusine Mayance) e o pai e marido amoroso, a enterram com seu vestido novo, aos pés da casa de pedra onde habitam.
Revoltado, Kohlhaas resolve fazer justiça com as próprias mãos. Reune um exército informal de camponeses, comerciantes e homens sem posses e lidera uma guerra contra a cidade da princesa. Sua sede de vingança é seu guia.
Há um encontro de Kohlhaas (que lê a Biblia traduzida) com Lutero, onde o dissidente da Igreja Católica primeiro o condena, depois o apoia.
O filme conta uma história sobre o conflito entre o que um homem de princípios sente em seu interior, quando se vê injustiçado e o que prevê a lei dos homens.
Mads Mikkelsen, o magnífico ator dinamarquês, com sua presença carismática, não poderia ser um melhor Michael Kohlhaas.
O diretor, Arnaud de Pallières, 53 anos, assina um filme de uma beleza incrível, com muitos “closes” fechados sobre os rostos dos personagens, que fazem o espectador ficar muito próximo do que se passa no íntimo deles, além de uma reconstituição de época deslumbrante, sob uma luz solar intensa e um escuro sombrio, que refletem com esplendor, a ambiguidade do tema.
Raro mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário