quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Os Amigos


“Os Amigos”, Brasil, 2014
Direção: Lina Chamie

Aquele homem tem algo que o faz melancólico, olhando a paisagem cinza da cidade que amanhece. Seus gestos são lentos ao fazer café, pegar o jornal, receber a velha empregada que chega.
“- Dona Julieta, vou ter que ir ao enterro do Juliano.”
“- Seu amigo de infância? Que triste... Você fala tanto dele, Theo. Que pena morrer assim...Tão jovem...”
“- Morrer nunca é bom...” diz Theo.
“- Mas é a vida, né?”responde ela.
Este é o tema do filme “Os Amigos” de Lina Chamie, roteirista e diretora.
Vamos seguir Theo (Marco Ricca), uns 40 e poucos anos, arquiteto, em um dia de sua vida. O dia em que o amigo Juliano morreu.
Velório. Cemitério. Palavras ditas e que ficam com ele:
“- Transformemos suas lembranças em vida.”
Theo aproxima-se da viúva e do filho do amigo, para se despedir:
“- Não sabia que o que ele tinha era tão grave...”
“- A gente nunca se prepara o suficiente para a morte... Tem uns livros do Juliano que eu queria te dar. Passa lá em casa?”
E Theo se vai. Mas não parece muito envolvido com sua própria vida. O luto pelo amigo traz de volta a infância dos dois. As brincadeiras, as brigas e as pazes, o pai violento do amigo, o irmão dele expulso de casa. Cenas que fazia tempo que Theo não revia.
Mas as lembranças de Juliano vão mantê-lo vivo dentro de Theo, o amigo que se afastara do outro na idade adulta mas com quem repartira momentos íntimos, quando o mundo ainda era a escola, a casa dele, a rua, a casa do amigo.
Theo se tranca no banheiro e chora. Vê o amigo no espelho, que sorri para ele.
E Theo se lembra da amiga Majú (Dira Paes) que está no zoológico com as filhas. Imagens de vida , natureza e luz invadem a tela.
A morte é natural. Tudo que vive morre. Só as lembranças não morrem. E o luto leva Theo para uma viagem pelo seu mundo interior.
Crianças, como um coro grego, contam a história de Ulisses e sua viagem. A “Suite Peer Gynt” de Grieg toca  em certos momentos. E tudo isso lembra a vida de heróis que empreendem viagens mágicas.
Hoje é dia de Theo viajar para dentro de si mesmo e reencontrar os heróis de sua infância.
Não é à toa que ele compra um Hércules para o menino que faz aniversário mas que acaba dando para o que perdeu o pai. Para protegê-lo.
A amiga levanta a moral de Theo. Ela também está sózinha. E a amizade aparece aqui, no presente da vida de Theo, como um sentimento forte que socorre, que sustenta em horas difíceis.
Poético e delicado, “Os Amigos” é um filme especial, para pessoas que gostam de um cinema que fala de sentimentos. 
 

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