Direção: Atom Egoyan
Pedofilia é tabu. Assunto difícil de ser tratado num
filme, sem que haja um apelo quase irresistível para mostrar imagens que chocam.
Não é o caso de Atom Egoyan, diretor que consegue falar de inocência roubada com
delicadeza. Em “À Procura”, há inclusive uma tentativa sincera de alertar para o
problema, sem tapar o sol com a peneira.
Aquele pai desesperado (Ryan Reinolds), que deixou a
filha no carro, no fim de um dia gelado nas montanhas canadenses, para vê-la
desaparecer sem deixar vestígio, causa pena. Ele foi comprar uma torta para o
jantar, depois de pegar Cassandra no ensaio da dupla de patinação com o amiguinho Albert, quando o inesperado drama
começa.
E pior. Ninguém acredita nele. A mãe de Cass (Mireille
Enos) culpa o marido de ter abandonado a filha e a polícia desconfia dele. Seu
negócio vai mal, ele está falido, não pode ter vendido a filha para gente
inescrupulosa?
Participamos do calvário do pai porque somos os únicos a
ver Cassandra (Alexia Fast) nas mãos de uma rede bem organizada de pedófilos na
internet, que tem entre seus membros, pessoas importantes da sociedade
local.
Em “flashbacks”o diretor conta a história de Cassandra,
10 anos de idade, uma bela menina loura que se transforma, 10 anos depois, em
uma mocinha sem brilho, tristonha, que faz tudo que seu dono (Kevin Durand)
manda fazer. Como já não interessa sexualmente, Cassandra desempenha o papel de
aliciadora de novas crianças pela internet.
Vemos na tela, menos em Cassandra e mais em outra moça
que trabalha para a rede de pedofilia, o que tecnicamente é conhecido como
“Síndrome de Estocolmo” e que tem esse nome desde 1973, quando sequestraram
funcionários de um banco na Suécia. Mantidos presos no cofre, enquanto os
sequestradores conversavam com a polícia, os sequestrados passaram a mostrar
simpatia por seus algozes, rejeitando inclusive o auxílio do governo, mostrando-se mesmo ligados emocionalmente aos
que os aprisionavam, defendendo-os até.
A hipótese mais aceita para esse tipo de comportamento é
a entrada em cena de um mecanismo de defesa, estudado pela psicanálise,
conhecido como “identificação com o agressor”. O trauma da vítima transforma-se
em uma ligação emocional com o seu algoz, numa tentativa de eliminar o perigo.
Colocada numa situação de total impotência, a vítima tende a transformar seu
agressor na figura de uma mãe poderosa, com direito à vida e à morte, mas que
poupa sua vítima. O temor extremo transforma-se em uma espécie de laço
amoroso.
Em seu filme, Egoyan trata todos os personagens com a
mesma dureza. Ninguém escapa. Todos ficam presos na história de Cassandra e não
vivem suas vidas. O pai, a mãe e até a própria polícia, na pele da investigadora
Nicole Dunlop (Rosario Dawson) e do detetive Jeff ( Scott
Speedman).
Atom Egoyan, 54 anos, filho de pais armênios, nascido no
Egito, vivendo no Canadá, é o diretor do brilhante “O Doce Amanhã – The Sweet
Here and After”1998. Em “À Procura” não mostra o mesmo desempenho mas consegue
realizar um filme interessante que faz pensar nos perigos do progresso, quando
novas tecnologias são usadas por gente do mal.
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