Direção: Park
Chan-wook
Quem será essa moça à
beira da estrada, que murmura em “off” coisas sobre si mesma? Ela diz que usa os
sapatos da mãe, o cinto do tio, algo do pai e que, assim como a flor não escolhe
sua cor, ninguém é responsável pelo que pode acontecer.
Mas parece que voltamos
no tempo e aquela moça é uma garota de
longos cabelos negros que, frente a uma estátua de bronze, sentada nas raízes de
uma grande árvore, duplica a pose da estátua e examina os pés. A câmara se
aproxima como um olho e vemos que ela fura uma bolha com uma
agulha.
Esse é o primeiro dos
pequenos detalhes incômodos com que o diretor sul-coreano Park Chan-wook monta
um quebra-cabeças em torno a India Stoker, a garota que é o centro do filme,
vivida por Mia Wasikowska, 23 anos e ótima no papel da mocinha assustada e
excitada, que não gosta de ser tocada e que não sorri.
Na floresta que cerca a
bela casa, ela sobe pelos grandes troncos e parece íntima daquele cenário. No
jardim mais próximo da casa, grandes pedras esculpidas como bolas, fazem um
arranjo em que a mocinha fica perecendo uma ninfa liliputiana.
Corte para o cemitério. A
garota estranha está de luto, ao lado da mãe (Nicole Kidman, bela e sedutora aos
45 anos), ouvindo o elogio fúnebre ao pai, morto num acidente não explicado. Ao
longe, a silhueta de um homem (Matthew Goode) é uma presença
inquietante.
De volta à casa, India
toca piano e novamente o olho da câmara vasculha e encontra algo que se arrasta
pelo tapete. Uma aranha sobe pelas meias que vestem as pernas de India, nos pés
sapatos bicolores.
Na cozinha com a avó, ela
pergunta sobre a chave que encontrou na caixa do seu presente de aniversário
conhecido, os sapatos bicolores. Todos os anos de sua vida ela ganhara a mesma
caixa com o laço de seda amarela e os sapatos.
“- Essa chave abre qual
fechadura? Vc sabe?”
E o desvelar do segredo
vai se desenrolando na tela, tudo muito bonito e elegante, com um toque de
perversão crescente.
No dia dos seus 18 anos,
o pai que India amava morrera e ela se lembrava dele dizendo:
“- Às vêzes precisamos
fazer uma coisa ruim para se impedir de fazer uma coisa pior.”
Levava India para caçar
pássaros e os empalhava.
O diretor de “Old Boy”,
primeiro filme de sua trilogia da vingança, estreia nos Estados Unidos com
“Stoker” que tem toques de Hitchcock e lembra seus “Sombra de uma Dúvida”(1943)
e “Psicose”(1960).
Mas o tempero coreano é
mais selvagem e sanguinolento. E o triângulo India, sua mãe Evie e tio Charlie
vão nos envolver com os segredos escuros do passado da família
Stoker.
Quem sai aos seus não
degenera, diz o ditado popular. Confiram em “Segredos de Sangue” como isso vai
acontecer, no excelente thriller assinado pelo genial diretor sul-coreano Park
Chan-wook.
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