Direção: Baz
Luhrmann
Será que sonhos podem
tornar-se pesadelos? E alguém pode reviver o passado? O que faz o amor
renascer?
Essas são as perguntas
que estão no cerne da história contada por F. Scott Fitzgerald (1896-1940) em “O
Grande Gatsby”, seu famoso livro de 1926, que já foi vivido no cinema por cinco
elencos diferentes e seus diretores. A última adaptação, mais presente na
memória das pessoas, tinha Robert Redford e Mia Farrow e foi sucesso de público
mas teve críticas mistas.
A nova versão que tem
Leonardo DiCaprio e Carey Mulligan é muito diferente das outras. O realizador de
“Moulin Rouge!” (2001) recria alguns dos climas vistos ali, no mesmo espírito de
fantasia que fez a fama de Baz Luhrmann e marcou a carreira de Nicole
Kidman.
O diretor australiano
escolheu uma narrativa que vai do conto de fadas ao clima de cabaré e filme
“noir”, em uma estética neo-barroca que pode não agradar a mentes mais
conservadoras.
A outros, vai justamente
divertir porque há uma intenção de acompanhar as artes plásticas contemporâneas,
com alusões a caricaturas, quadrinhos e excessos carnavalescos. Os malabarismos
com a câmara e o 3D são usados de maneira criativa e ajudam na criação dos
estados de alma dos personagens.
A cena que apresenta
Daisy Buchanan à plateia é de ficar na memória para sempre: cortinas esvoaçam,
um braço emerge do sofá, um diamante perfeito no dedo. É Carey Mulligan,
divertida, sestrosa, mimada. Vestida por Prada e Miu Miu com brilhos, rendas,
transparências e franjas de cristal, ela encanta com a raposa azul emoldurando
seu rosto e jóias no cabelo curto nas cenas da festa na casa de
Gatsby.
O narrador e testemunha
de todas as reviravoltas da história é Toby Maguire, que faz Nick Carraway,
primo de Daisy. Como sempre, Toby Maguire é o excelente ator que ajuda na
criação de um clima exagerado em torno aos personagens, todos
excessivos.
O marido de Daisy,Tom
Buchanan, vivido com brilho por Joel Edgerton, é o herdeiro milionário,
presunçoso e preconceituoso, além de egoísta ao extremo. Ele e Daisy são a elite
endinheirada que se considera acima das leis e da moral. Dão o tom dos
“alucinados anos 20” que antecederam à famosa crise de
29.
Leonardo DiCaprio cria um
Jay Gatsby com um charme mais infantil do que Robert Redford mas com nuances
depressivas. Está ótimo no papel, expressando bem a mania de grandeza, a
inadequação e os delírios do personagem, assim como dá vazão ao seu romantismo e
ingenuidade pueris.
Sempre à procura de algo
que lhe escapa, Gatsby é uma figura angustiada e maníaca mas também sedutor e
atraente. Uma mistura irresistível para o lado mais infantil e aventureiro de
Daisy.
Ao som de Gershwin, jazz,
“Let’s Misbehave” e a bela canção original “Young and Beautiful” cantada por
Lana Del Rey, as cenas vão se desenrolando frenéticas até o momento da tragédia.
Aí o ritmo da narrativa muda e a fachada estética não desaparece mas cede lugar
a uma realidade mais sombria.
Com tudo isso, “O Grande
Gatsby” deve agradar às plateias brasileiras e incentivar a leitura do famoso
livro do grande F. Scott Fitzgerald. Eu recomendo.
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