sábado, 8 de junho de 2013

Além do Arco-Íris

“Além do Arco-Íris” – “Au Bout Du Conte”, França 2013
Direção: Agnès Jaoui

Todas as meninas gostam de contos de fadas. Meninos também mas depois preferem os super-heróis dos quadrinhos. Claramente, as crianças procuram modelos para entender o que virá no futuro. Ali há material para sonhar.
Será que é pela mesma razão que os adultos se impressionam com profecias, augúrios, videntes, cartomantes?
É com essas questões que brinca o filme “Além do Arco-Íris”.
A mocinha Laura, na escola onde as crianças se preparam para fazer o espetáculo de fim do ano, conta para tia Marianne, vestida de fada, o sonho que teve com um homem desconhecido que a levava para voar:
“- Nunca amei ninguém como nesse sonho...”
“- Você tem muito tempo para isso”, responde Marianne, “pé no chão”, aflita para chamar a atenção das crianças e fazer com que a peça aconteça.
Já no cemitério, Pierre, homem de meia idade semblante depressivo, enterra o pai. Mas diz que não sente nada.
“- Eu sinto” diz a ex-mulher, “ele sempre foi muito bom com o Sandro”.
O neto Sandro chora mas disfarça quando o pai chega onde ele está. Não se dão bem.
“- Lembra daquela mulher que previu o dia de sua morte?”, diz a ex.
“- Uma louca que fazia horóscopo para todo mundo...” responde Pierre aborrecido.
“- Pode ser... Mas isso marca”, insiste a ex.
Com quem eu vou me casar? Em que dia vou morrer? O amor faz com que a morte seja esquecida? O romantismo é uma fuga da realidade?
Laura (Agathe Bonitzer) e Pierre (Jean- Pierre Bacri) vão viver suas angústias de forma diferente. Estão em etapas distintas da vida. Ela sonhadora, ele desiludido.
Outras histórias vão se cruzar com essas duas.
Assim, Marianne (a diretora de 48 anos, Agnès Jaoui) quer ser livre para ser atriz, o bom rapaz Sandro (Arthur Dupont) quer amar e ser compositor, o “bon vivant” (Benjamin Biolay) quer todas as mulheres do mundo, a menina Nina se agarra na religião porque não quer pensar na separação dos pais. E tem ainda os pais de Laura, o marido de Marianne, a mãe de Sandro e a namorada de Pierre.
Ou seja, muitos personagens, muitas angústias diferentes, muitas situações que se entrelaçam num roteiro que tem pontos altos e baixos. Os roteiristas, Agnès Jaoui e Pierre Bacri, casal na vida real e pais adotivos de duas crianças brasileiras, escreveram roteiros para ninguém menos que Alain Resnais. E ela dirigiu quatro filmes, inclusive “O Gosto dos Outros” (2000), indicado para Oscar de melhor filme estrangeiro. Percebe-se o talento deles nas questões que o filme propõe.
Mas os contos de fada, ancoragem interessante, servem apenas para ilustrar um triângulo amoroso e uma relação mãe/filha, com referências a Branca de Neve, Cinderela, Chapéuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. Mas é verdade que contribuem para a estética dos cenários e figurinos do filme, muito originais.
“Além do Arco-Íris” diverte, faz perguntas mas fica faltando uma maior coesão na costura das histórias e no aproveitamento dos contos de fadas.
Talvez seja até de propósito.Temos a mania de querer tudo arrumadinho, digerido, pronto para esquecer. E “Além do Arco-Íris”, cujo titulo original é “No Fim do Conto”, pede para que os espectadores pensem e duvidem de finais felizes estereotipados.
Pode ser uma boa novidade.


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