Direção: Anna
Muylaert
Quem passou por isso sabe
como é. Quem não passou, ouviu alguém contar do sofrimento com esse golpe
perverso que é o falso sequestro.
Já foi até capa de
revista nacional.
Alguém, mãe ou pai,
escuta um homem com disposição violenta, voz de marginal, dizer que estão com
uma pessoa da família. Geralmente filho ou filha. E a mãe ou quem atendeu ao
telefone inocentemente, angustiada com o susto que levou, se confunde. Na voz do
comparsa, que imita a voz de uma pessoa desesperada, reconhece erradamente a
filha ou filho e entrega o nome ao criminoso. E aí, é tudo que ele queria para
extorquir o que quiser.
Anna Muylaert retrata
fielmente essa situação desesperadora em seu filme “Chamada a Cobrar”, que
originalmente, era um média metragem, com o nome de “Para aceitá-la continue na
linha”, que passou na TV Cultura.
Bete Dorgami, atriz
talentosa, faz Clarinha, uma senhora de meia idade, classe média alta, que mora
sózinha com seu cachorro e a empregada de anos de casa.
Ela tem três filhas
ocupadas, distantes quase o tempo todo, com seus afazeres preenchendo o dia. Não
sobra muita coisa para a mãe. Mas, quando a empregada consegue, finalmente,
localizá-las, dão-se conta do desaparecimento dela e são ajudadas por um
delegado de policia que conta a elas sobre o golpe do falso sequestro e ensina
como devem se portar para ajudar a mãe.
O filme se passa quase o
tempo todo dentro do carro de Clarinha, que, com o celular no ouvido, segue as
instruções do falso sequestrador ao pé da letra. Ela faz tudo que ele manda
fazer.
Seria ela é uma pessoa
inocente, distante da realidade, meio gagá? Clarinha pode até dar essa
impressão, agora que esse golpe é conhecido e todo mundo já sabe como funciona.
Mas a intenção da diretora parece que não é essa. Porque quase qualquer um
poderia ter caído nesse golpe, naquela época. Bastaria que amasse ou se
preocupasse com o destino do filho ou filha, longe de casa, que se pensa que
está na situação perigosa que o marginal que fala ao celular faz
crer.
Acredite quem quiser,
mas, infelizmente, esse golpe já foi adotado em nova versão, não por marginais
falando português errado, mas por jovens que se fazem passar por familiares de
avós, tias, parentes em geral.
Essas senhoras abordadas
por telefone, bem intencionadas, acreditam na história que é contada com
detalhes por supostos parentes desesperados e fazem depósitos na conta do jovem
que passa por uma aflição, naturalmente inventada. E que pedem sigilo para que a
mãe deles não fique nervosa.
“- Sabe como é, né, vó? A
mãe é exagerada. Melhor eu contar depois com calma para ela. E eu vou te
devolver esse dinheiro emprestado, claro.”
No Brasil, já não é só a
classe mais necessitada que é a autora de golpes para arrancar dinheiro das
Clarinhas ricas. Infelizmente aqui, a juventude “esperta” adotou o modelo que se
mostrou compensador e saqueia a própria família ou a do amigo. Todo cuidado é
pouco.
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