Direção: Petra
Costa
Ela é uma sombra no chão.
Filma imagens fugidias. Nelas, procura traduzir uma busca da verdade sobre si
mesma.
“- Sonhei com você nessa
noite, Elena...”, assim começa seu documentário a diretora Petra Costa, 29 anos.
É um diálogo com a irmã
Elena, que vive em sua memória, indagando o porquê daquilo que
aconteceu.
Parece que o filme, feito
de pedaços de filminhos caseiros, gravações da voz da própria Elena, seus
diários e vídeos, depoimentos da mãe das duas e associações que a diretora faz a
partir de lembranças afetivas da irmã, vai conseguir salvá-la do mesmo destino
trágico.
Colocando em imagens essa
história, ela resgata o que de belo e amoroso existia em Elena, que tinha dito
para a mãe que tinha um vazio enorme no peito. E que queria
morrer.
Então, como são preciosos
para Petra, 13 anos mais nova que Elena, esses momentos resgatados nos arquivos
da família, onde as duas dançam. Ela, pequena, no colo da irmã. Ou então quando
dorme a seu lado, cabeça com cabeça, ela um bebê de chupeta e Elena mocinha de
13 anos.
A mãe é uma referência
mútua, a “nossa mãe”, como diz Petra, que narra o filme em “off”. Também ela
queria ser atriz, foi militante nos anos da ditadura e separou-se do pai das
duas quando Petra tinha 15 anos.
Elena foi para Nova York
em 1990, com 20 anos. Queria trabalhar no cinema. Era excessivamente exigente
consigo mesma e parece que, apesar de bela e de gostar de dançar, traz nela algo
que Petra pressente, que também vê na mãe e se assusta em pensar que não vai
saber lidar com aquilo em si mesma.
“- Pouco a pouco você
começa a se distanciar”, diz ela para a irmã que não está mais
presente.
A bela Elena arrasta
consigo aquele vazio que disse sentir no peito e se cobra
muito:
“- Se não consigo fazer
arte, melhor morrer”, ouve dela a mãe.
Os sinais de fragilidade
na existência de Elena vão se compondo numa depressão que Petra não quer
explicar, nem viver.
Perder quem se ama é
insuportável. Frente a um suicídio, o trabalho de luto longo e doloroso, a culpa
que sempre existe contra toda e qualquer evidência em contrário, mas
principalmente o medo de ser levada a um mesmo destino, são os temas universais
da narrativa de Petra que faz com que uma identificação com ela seja
obrigatória.
Parece que a libertação
torna-se possível quando Petra consegue inserir-se numa procissão de mulheres
levadas e lavadas por uma água transparente, de olhos fechados, pacificadas. Ser
humana e mulher é o destino de todas elas.
Petra Costa faz desse
diálogo com a irmã morta uma obra comovente e vital, com poderes curativos. Arte
serve também para isso.
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