Direção: Marcos
Carnevale
O diretor argentino de
“Elsa e Fred” (2005),sucesso de público e crítica, continua a se interessar pela
alma humana e seus meandros. Se, no filme dos velhinhos e seu caso de amor,
havia uma homenagem explícita a Fellini e ao universo criado por esse grande
cineasta, Marcos Carnevale parece que agora homenageia Almodóvar, nessa história
tragicômica de traição, paixão e amizade entre duas mulheres que nada tem em
comum, a não ser o amor que sentiram pelo mesmo homem.
Elena, mulher madura,
interpretada com talento pela atriz Graciela Borges, é uma cineasta que está
dirigindo um documentário sobre as mulheres e o amor, quando recebe a notícia de
que o marido Augusto (Mario José Paz) sofrera um infarto e está no hospital. E
lá, escuta, dividida entre o amor e o ódio, o último pedido do marido
agonizante:
“- Cuida
dela...”
“-Como?”
“- Ela não tem ninguém.
Não vai aguentar sozinha.”
“- Como pode me pedir
isto, Augusto?”
Mas Augusto fecha os
olhos para sempre.
Bem que Elena havia
notado aquela mocinha vestida numa capa curta, chorando pelos cantos do
hospital. O médico havia até se confundido, pensando que ela era sua
filha.
Mas no dia do enterro,
fica patente que Adela (Valeria Bertucelli), a mocinha, não iria desaparecer tão
cedo de sua vida. A imagem viva da traição de Augusto leva flores para Elena e
parece totalmente desamparada, sentada nos degraus da capela
tumular.
E Carnevale faz então, um
desfile de tipos almodovarianos em torno à viúva Elena.
Assim, Esther, a amiga
gorda que trabalha com Elena e quer tirar a moça Adela da cabeça da amiga, pondo
panos quentes na situação.
Depois a cadela Maggy,
adorada por Augusto, para desconforto maior de Elena, jaz pelo chão do
apartamento desconsolada e cheia de coceiras.
Por fim a empregada
Justina (Martin Bassi), um travesti com pendor para a tragédia, que não pode ser
despedida porque parece que conhece segredos da vida de Augusto. Quando quer
falar mal de Elena em frente a ela, usa a língua guarani.
Para cúmulo dadesgraça de
Elena, Adeladeprimida tenta o suicídio. Mas as provações da viúva não terminam
aí.
Esse roteiro sobre as
duas viúvas, escrito por Carnevale e Bernarda Pages, tem situações que poderiam
ser melhor exploradas. Os sentimentos ambiguos de Elena e Adela mereciam ter
sido aprofundados.
Mas a trama prende o
espectador e, se não chega a emocionar, também não decepciona.
Não é sempre que o cinema
argentino atinge a genialidade. Carnavale não repete aqui o toque de mestre de
“Elsa e Fred”. Mas consegue entreter, com ótimos atores.
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