sábado, 8 de dezembro de 2012

Infância Clandestina


“Infância Clandestina”- Idem, Argentina/ Brasil /Espanha, 2011
Direção:Benjamin Ávila

Um menino de onze anos volta a seu país, a Argentina, em 1979, pela mão de brasileiros. Vemos a travessia de um rio e a passagem por barreiras na fronteira Brasil- Argentina. Ele, que nasceu Juan, por causa de Perón, agora vai se chamar Ernesto, por causa de Che Guevara.
O pai desenha para ele todos os disfarces que o Che usou e diz, antes de fazê-lo passar pela fronteira, com um novo passaporte:
“- Agora são as suas aventuras. Você vai se chamar Ernesto.”
O casal de “montoneros”, idealistas políticos que querem acabar com a ditadura militar cruel que assola a Argentina (de 1976 a 1983), volta ao país natal na clandestinidade, depois de se exilar em Cuba e no Brasil. Horácio (Cesar Troncoso) e Cristina (a uruguaia Natalia Oreiro), mais a bebê Vicky e o menino de 11 anos, agora Ernesto (o maravilhoso ator mirim, Teo Gutiérrez), vão tentar viver uma vida dupla em um vilarejo, onde, com o irmão de Horácio, tio Beto, irão se refugiar atrás de uma fabriqueta de amendoim com chocolate, enquanto levam avante seu plano de derrubar a ditadura, junto a outros “montoneros”.
O diretor Benjamin Ávila, avisa, desde o início, que o filme é baseado em fatos reais. Mais que reais, autobiográficos, já que o diretor viveu, qual o menino do filme, situações de crianças que tem os pais na luta armada.
E “Infância Clandestina” é o ponto de vista infantil sobre o mundo dos adultos. A câmara chega muito perto. Íntima, focaliza olhos, boca e ouvidos de Juan/ Ernesto, que, aos 11 anos, está numa idade em que começa a se posicionar frente ao mundo à sua volta. Espreita, quer saber o que se passa.
O país e a bandeira amada azul e branca, sem o sol dos militares, da guerra, já significam muito para ele. Mas e o amor?
Ainda muito ligado à mãe, bonita e carinhosa, testemunha encantado o seu canto, acompanhado-se ao violão ( a atriz Natalia Oreiro é também cantora), com os companheiros num churrasco. E, no parque, faz a ela perguntas sobre o amor dela pelo pai, muito próximos e amando as brincadeiras que ela faz.
Mas é o tio Beto que vai entender que Ernesto estava vivendo seu primeiro amor, com uma coleguinha de escola, Maria, graciosa ginasta olímpica. Seus conselhos de como tratar as “minas”, meninas, tem para o menino o sabor de uma conversa que jamais poderia ter com o pai, tímido e intimidante, apesar de prezar muito a família.
“Infância Clandestina” tem uma posição política corajosa quando retrata o movimento que foi totalmente dizimado pelos militares que estavam no poder. Mas não esquece o que se passava no íntimo do menino que começava a vida de adolescente. E não faz vista grossa frente aos sofrimentos que esse tipo de criança passa.
O uso do recurso aos quadrinhos em algumas passagens mais violentas, é uma originalidade de “Infância Clandestina”, que remete ao que é vivido pela criança e que se torna depois uma lembrança afetiva indelével.
Benjamin Ávila escreveu o roteiro com o brasileiro Marcelo Muller e escolheu muito bem o elenco do filme, premiado já em alguns festivais por onde passou. Aliás, o filme foi indicado pela Argentina, para representar o país no Oscar de melhor filme estrangeiro, no ano que vem.
Intimista, delicado e corajoso, “Infância Clandestina” emociona e faz pensar em como os adultos fazem sofrer a crianças, com a vida egoísta que levam, sejam militantes políticos ou não.

Um comentário:

  1. Uma das razões pelas quais eu como o filme Infancia Clandestina está fazendo excelente ator César Troncoso, a quem eu estou sempre seguintes nas produções de teatro, cinema e tv em que participa.

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