Direção:Ang
Lee
Todo mundo gosta de
ouvir histórias, desde criança. Elas ficam na nossa cabeça e inspiram outras
histórias. É o destino delas.
Mas quando quiseram
fazer um filme com “As Aventuras de Pi”, algo estranho aconteceu. Muitos
diretores tentaram fazer esse filme mas desistiram. Parecia que a história
imaginada pelo brasileiro Moacyr Scliar, “Max e os Felinos”, e que inspirou Yann
Martel para escrever o livro “As Aventuras de Pi”, era impossível de ser posta
em imagens. Muito filosófica...
A história precisava de
um mestre em imaginação e soluções mágicas. E ele apareceu.
Ang Lee, nascido em
Taiwan e radicado nos Estados Unidos, o cineasta de 58 anos que já fez cowboys
se amarem, apaixonou-se por essa história e criou para ela um mar que reflete
nuvens e se mistura com o céu e à noite brilha à luz de plânctons e peixes
fosforescentes.
Dentro de um bote,
depois de um naufrágio no qual perdeu toda a família, um garoto indiano tem um
tigre como companheiro de viagem. Mas como foi difícil chegar nesse
ponto...
Essa história simples
inspira muitas reflexões. Quanto alguém precisa sofrer para desacreditar de
tudo, de sua fé, de sua esperança, de sua vontade de viver? Um animal selvagem
pode ser um desafio e transformar-se
em um estímulo? Quanto amor próprio é necessário para alguém não
abandonar-se à própria sorte? Ou é tudo uma metáfora sobre a culpa e de como nos
fazemos mal, até domá-la com carinho e aceitar a vida como ela é? E assim por
diante. Cada um vai fazer uma pergunta diferente.
No bote, os dias são
longos e quando o mar é um lago, Pi e o tigre satisfazem parcamente suas
necessidades básicas com peixes e água da chuva. Mas, frente ao mar revolto, de
ondas assassinas, Pi e o tigre Richard Parker estão entregues à fúria do vento,
raios e trovões de uma tempestade que os coloca à mercê da natureza. Trocam
olhares assustados e se viram como podem. Estão juntos, iguais, o menino e o
tigre com nome de gente.
Ang Lee, o brilhante
diretor que já ganhou um Oscar com “O Segredo de Brokeback Mountain” e outro de
melhor filme estrangeiro com “O Tigre e o Dragão”, usa o roteiro perfeito de
Yann Martel e a fotografia de Claudio Miranda para nos fascinar com imagens de
sonho.
É tudo digitalização e
cenas em estúdio? Não importa. Ang Lee captura os nossos sentidos e cria
surpresa e encanto. Usado com naturalidade, o 3D não é muito notado porque faz
parte de um mundo criado pelo diretor.
A trilha sonora de
Mychael Danna ressoa os sentimentos que se passam no coração de Pi e nos embala
na magia das cenas que se sucedem, uma mais linda que a outra.
Shuraj Sharma interpreta
o menino Pi com uma naturalidade que só um novato conseguiria, pensou
acertadamente o diretor, ao escolhê-lo dentre os 3.000 candidatos. E é só ele e
o tigre a maior parte do tempo,
vivendo uma história que
nos prende a atenção e nos faz torcer por um final feliz.
“As Aventuras de Pi” é
um filme para crianças e adultos.
Entreguem-se de corpo e
alma à essa obra-prima, sem medo de errar.
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