Direção: Angelina
Jolie
Angelina Jolie é daquelas
raras mulheres que tem tudo. Boa atriz, linda, rica, bem amada e generosa, ela
também é inteligente, sensível e tem espírito humanitário. Essa mulher invejada
se compadece dos que sofrem.
Seu primeiro longa,
escrito, dirigido e produzido por ela, “Na Terra de Amor e Ódio”, é
surpreendente e corajoso. Conta a história de um romance que acontece no cenário
de uma das mais terríveis guerras do século XX. A guerra da Bósnia, que começou
em 1992 e foi até final de 1995, é considerada o mais mortal conflito na Europa
desde a Segunda Guerra.
Os números dessa guerra
são impressionantes. Entre 100.000 e 110.000 pessoas foram mortas. Mais de 2.5
milhões tornaram-se refugiados porque um em cada dois bósnios foi obrigado a
abandonar a sua casa. Durante a guerra 50.000 mulheres bósnias foram
violentadas, o que levou a violência sexual a ser considerada um crime contra a
humanidade, pela primeira vez no direito internacional. O cerco a Sarajevo foi o
mais longo da história moderna.
Por três anos e meio, a
comunidade internacional deixou de intervir e acabar com a guerra. Havia uma
discussão sobre se era uma guerra civil ou internacional.
E pensar que antes dessa
guerra cruenta, a República da Bósnia- Herzegovinia fazia parte de um dos países
mais diversificados do ponto de vista étnico e religioso de toda a Europa, a
Iugoslávia. Lá, viviam em harmonia, muçulmanos, sérvios e
croatas.
Mas a guerra, insuflada
pelos países vizinhos da Bósnia, a Sérvia e a Croácia, depois da declaração de
sua independência em 1992, fez aflorar os piores instintos nos homens. Depois da
guerra, nas negociações de paz, a CIA considerou as forças do exército sérvio
como responsável por 90% dos crimes cometidos durante o
conflito.
Angelina Jolie começa a
contar a história de seus personagens um pouco antes da guerra. Num bar, a bela
morena muçulmana Ayla, que é pintora, se encontra com Danijel, filho de um
general sérvio. Flertam, dançam e cantam alegres, até que o estrondo de uma
bomba introduz o horror, a morte e o sangue na vida de todos.
A partir daí o romance
deles vai enfrentar obstáculos insuportáveis. Ela é levada, com outras mulheres,
como prisioneira, para servir de escrava sexual no quartel das forças sérvias.
Danijel tenta protegê-la mas o ódio antigo dos sérvios aos muçulmanos vai selar
o destino daquele amor.
Angelina Jolie filmou na
Hungria e na Bósnia- Herzegovinia. “Na Terra de Amor e Ódio” é falado em
servo-croata e os ótimos atores são todos nascidos na região, inclusive o par
principal formado por Zana Marganovic e Goran Kostic.
A fotografia é austera e
a música é usada de maneira sensível e comedida. Gabriel Yared, o compositor e
pianista, pontua cenas com temas minimalistas.
A diretora e roteirista
foi indicada ao Globo de Ouro no ano passado e apresentou seu filme no Festival
de Berlim. Diz ela:
“- Esse filme poderia ser
sobre qualquer guerra... mas escolhi esse conflito por ser muito recente e ainda
não totalmente compreendido.”
“Na Terra de Amor e Ódio”
é um alerta sobre o rancor e a vontade de dominar com crueldade aqueles que são
considerados os inimigos que, de tempos em tempos, desperta no coração dos
homens.
Sensível e dramático na
medida certa.
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