“Se a rua Beale falasse”- “If Beale Street Could Talk”,
Estados Unidos, 2018
Direção: Barry Jenkins
Eram crianças que cresceram juntas. Ele e ela passaram a
infância brincando um com o outro e o amor pueril transformou-se, em seu devido
tempo, em amor verdadeiro.
Só que a vida adulta reservava um pesadelo para aqueles dois
jovens amorosos e confiantes.
As famílias se conheciam. Moravam perto. Mas quando
anunciaram que iriam se casar, a mãe dele não gostou da escolha do filho. Ela
era pouco para ele. Ou era um problema íntimo da mãe dele que tinha um
casamento infeliz?
Foi duro mas não impossível conviver com essa situação entre
as famílias. Eles se amavam e era o bastante. O amor deles era de verdade e
nada os separaria.
Mas eram pretos. E a história deles não foi como a de Romeu
e Julieta. O sistema foi quem os separou, não as famílias. Queriam ele como
exemplo para os outros jovens negros como ele.
E, no desenrolar do drama que envolveu Tish (Kiki Layne) e
Fonny (Stephan James), veremos quanto a justiça pode ser injusta dependendo de
quem a exerce.
E foi contra ele que foi decidido. Preso e condenado sem
provas cabais. Não há testemunhas? Ah! Se a rua Beale pudesse falar...
Ele foi considerado culpado da acusação. Um negro orgulhoso
de sua cor e revoltado contra os que o acusavam. Merecia castigo e prisão.
Assim pensavam seus algozes.
Então, só o vidro do parlatório da prisão os separava,
porque a cada visita, seus corações estavam mais juntos do que nunca.
No início foram só lágrimas e dor mas ela mostrou sua fibra.
Tish tinha a mãe (Regina King, que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante)
do seu lado. O tempo estaria sempre a favor dos dois. Cada dia que passava ele
estava mais perto dela e do filho crescido longe do pai mas tão amoroso nas
visitas com a mãe à prisão. Quem sabe a criança não teria uma vida melhor?
Fonny, que era um artista, prometeu a Tish que iria
construir uma mesa enorme onde todas as gerações futuras se sentariam para
comer e celebrar em liberdade.
O diretor de “Moonlight”, Barry Jenkins, o melhor filme de
2016, assina esse romance dramático adaptado do livro de mesmo nome de James
Baldwin, o grande escritor do povo negro americano, com imagens da
fotografia de cores belíssimas de James Laxton.
Não só nos Estados Unidos nos anos 70, onde o filme se
passa, mas ainda hoje no mundo todo existe preconceito contra a cor da pele do
outro. Brancos, negros, amarelos e vermelhos de todos os matizes esquecem que,
por baixo da pele, somos todos iguais.
“Se a rua Beale falasse” é um grito de dor contra esse
estado de coisas.
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