“O Retorno de Ben” – “Ben is Back”, Estados Unidos, 2018
Direção: Peter Hedge
Qual mãe ou pai de adolescente não teme que seu filho ou
filha seja atraído pelas drogas? Há uma epidemia mundial de jovens drogados,
morrendo cedo, entrando e saindo de clínicas de reabilitação e pior, presos em
cárceres escuros. O que pode fazer uma pobre mãe ou pai?
Dois filmes me impressionaram no tratamento sensível e nada
meloso com que mostraram esse problema. Um foi “Querido Menino” de Felix Van
Groeningen com Steve Carell e Thimothée Chalamet, uma história real e “O
Retorno de Ben”.
Esse último acaba de ser lançado no Brasil e certamente
muita gente vai ver, atraídos pelo nome da estrela do filme, Julia Roberts.
Tudo se passa numa cidade pequena americana, coberta de
neve. É quase Natal.
Holly (Julia Roberts) levou seus dois filhos menores, um de
ovelha e a outra de estrelinha, para ensaiar o presépio na igreja. A filha
maior, Ivy (Kathryn Newton), do primeiro casamento de Holly, com sua bela voz,
canta com o coro.
Na volta para a casa, uma visita inesperada está na frente
da porta:
“- É seu irmão mais velho”, exclama Holly, olhando para Ben
(Lucas Hedge), que chega para passar o Natal com eles.
Mas há algo errado no ar, uma crispação nos olhos da irmã,
um sorriso meio preso no rosto da mãe.
Só começamos a compreender melhor o que acontece quando, depois
de uma conversa forçada na cozinha, a mãe recolhe todos os remédios de
prescrição que encontra nos banheiros, pega também suas joias e esconde tudo no
meio das toalhas da rouparia.
Quando chega o marido de Holly (Courtney B. Vance), avisado
por Ivy do que acontecia, vemos que está sério e preocupado:
“- Não entendo você aqui. Terapeutas, médicos e até você
mesmo concordaram que ainda é muito cedo para você visitar a família no Natal.
Há muitas tentações para você e gatilhos perigosos. ”
E só para Holly ele, que é negro, diz:
“ Se ele fosse negro, estaria na prisão. “
Sem ter consciência do que está acontecendo, Ponce, o
cachorrinho da família, está eufórico. Late e pula pela casa, fazendo farra com
Ben e os dois pequenos. Na segunda parte da história, o cãozinho vai servir
para aproximar Holly de descobertas terríveis sobre o passado do filho.
A mãe está dividida nesse primeiro momento. Alegre por ter a
companhia do filho e, ao mesmo tempo, concordando com o marido e a filha, que
ele tem que ser vigiado.
Julia Roberts está esplêndida no papel de mãe de um drogado,
mostrando em seu rosto bonito o conflito de amar e não poder ajudar um filho
perdido para a droga. Ela é forçada a sair de uma negação defensiva, querendo
acreditar que ele mudou e ao mesmo tempo não podendo deixar de perceber as
mentiras e a farsa que ele encena.
Lucas Hedge (“Manchester à beira mar”), filho do diretor e
roteirista Peter Hedge na vida real, está também muito bem mas a estrela aqui é
Julia Roberts, num papel perfeito para mais uma indicação ao Oscar. Merecida.
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