“A Mula”- “The Mule”, Estados Unidos, 2018
Direção: Clint Eastwood
Ele é um mito. Aos 88 anos, quase 89, Clint Eastwood mantém
o físico e a cabeça em perfeita ordem. Claro que os olhos turquesa
empalideceram, o rosto se vincou ao sol da Califórnia e o corpo está franzino.
Mas o ator está presente e é sutil, o diretor atento domina o filme e o
compositor é o único que não aparece em “A Mula”.
Mas inspirou o músico Toby Keith a compor uma música para o
filme, quando o ator respondeu a uma pergunta dele, durante um jogo de golfe:
“- Como você se mantém em forma? ”
“- Don’t
let the old man in (Não deixe o velho entrar)”, diz Eastwood.
E esse é o título de uma das canções da trilha sonora de
Arturo Sandoval.
Não sei se a nova geração percebe o valor desse homem que
sofreu mudanças físicas mas que mantém a cabeça no lugar. Sempre foi político,
não liberal, mas republicano. Não precisamos apoiar, nem celebrar suas
opiniões, mas respeitá-lo pela integridade. Por falar nisso, prestem atenção na
cara dele quando, em uma cena do filme, ele ajuda uma família de negros a mudar
o pneu do carro e calmamente chama eles de “niggers”, o que é considerado uma
ofensa. Chamam a atenção dele, dizendo que a palavra que ele usou é um insulto
e que é melhor usar “blacks”. Ele ouve tudo sem discutir e segue adiante,
impávido. É o jeito dele de ser e não tem nada a ver com o personagem que ele
representa.
Aliás, Clint Eastwood voltar a participar como ator de um
filme que ele mesmo dirige já é de surpreender. “Gran Torino” de 2008 e “Curvas
da Vida” de 2012 pareciam ser suas últimas atuações no cinema. Que nada. Ele
volta brilhando em “A Mula”, no papel de Earl Stone, um personagem da vida
real, apaixonado por lírios e “bon vivant” que praticamente abandonou a
família. Não participava, esquecia ou chegava atrasado em batizados, formaturas
ou até no casamento de sua única filha (Alison Eastwood, filha do ator na vida real),
com quem não falava há 12 anos quando o filme começa em 2005.
Ele era um bem sucedido produtor de lírios que cultivava com
auxiliares latinos e participava com charme e simpatia de todos os congressos e
convenções, até que, vencido pelas vendas pela internet que ele desprezava, foi
à falência, em 2017.
Seu futuro parecia sombrio já que mesmo a família não o
queria por perto. Quebrado, sem casa para morar, pois não podia pagar a
hipoteca, eis que surge uma chance de trabalho por acaso. Um velho que nunca
fora multado e guiava bem e com cautela, seria o motorista ideal para o cartel
mexicano de drogas, porque poderia passar desapercebido pela polícia.
O filme é leve, divertido e agradável de ver. E o elenco tem
nomes como o de Dianne Wiest que faz a ex, sempre vista nos filmes de Woody
Allen, Bradley Cooper, a quem ele elogiou o trabalho de diretor em “Nasce uma
Estrela”, que faz o agente dos narcóticos com Michel Peña, que vão caçar o mula
pelas estradas ladeadas de belas paisagens americanas. E Andy Garcia, gordo e
coberto de ouro, que é o chefão do cartel e recebe Earl Stone em sua fazenda no
México, onde rolam bebidas e sexo à vontade.
O roteiro de Nick Schenk tem alto e baixos mas pode agradar
se você souber quem é Clint Eastwood, ganhador de 4 Oscars e inúmeros outros
prêmios mundo afora.
O “durão” aqui está mais suave e até faz auto crítica. Sem
nunca deixar de ser charmoso e carismático, é claro.
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