Direção:
Ramón Salazar
Naquele
palácio de mármore e espelhos, a dona da casa alta, cabelos brancos bem
cuidados, vestida com uma saia longa de seda e suéter prata, dá as últimas
instruções aos criados antes do jantar formal. Tudo tem que estar perfeito.
Anabele
sabe receber bem. O jantar aconteceu, como sempre, às mil maravilhas, apesar do
tédio que transparece no rosto dela.
Mas, acabado
o jantar, quem é aquela moça que a encara num misto de atrevimento e surpresa?
Como conseguiu entrar na casa? Não é um dos convidados.
Passado o
primeiro susto, um papel amarrotado é deixado em cima da mesa. Um encontro está
marcado.
E Anabele
vai se ver frente a frente com Chiara, a filha que deixou com o pai aos 8 anos
de idade.
Vão passar
dez dias juntas. É o pedido que a filha faz. E a mãe, parecendo a contragosto,
vai.
Quando
chega na velha casa, nada parece mudado. E Chiara não se mostra simpática nem
acolhedora. Por que então insistiu nesse encontro?
Ramón
Salazar, diretor e roteirista coloca aquelas duas, a mãe (Susi Sánchez) e a
filha (Bárbara Lennie), separadas há tanto tempo, juntas, para contar uma
história comovente.
Dia após
dia, mãe e filha vão se estranhar e se aproximar, numa coreografia de
diferentes afetos, construída ao longo desse tempo que passam na mesma casa.
Não se
conhecem. Os laços de sangue não ajudam. Será no mais profundo poço do abandono
acontecido que Anabele vai reencontrar a filha Chiara.
Despida de
luxos e da arrogância, a mãe vai comover-se com a filha. Tão distantes mas já
tão próximas aquelas duas.
Há uma
missão a ser cumprida. E a mãe vai oficiar um ritual de compaixão. Só ela vai
entender, não sem dificuldade, do que a filha precisa. Eis o porquê do chamado.
Um clique
de máquina fotográfica antiga une as diferentes fases do filme, fazendo menção
ao tempo real e ao tempo imemorial do afeto.
Uma
reconstrução do passado é necessária para que mãe e filha possam
atuar, afinal, o ritual de passagem inspirado pelo amor, que une vida e morte.
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