Direção:
Andrea Pallaoro
O curso de
teatro que Hannah frequenta é um lugar onde poderia expressar emoções que na
vida ela se proíbe. Talvez. Estranhamente, diálogos e pequenas cenas que ela
representa lá, durante o filme, lembram idênticos momentos de sua vida. Parece
que o diretor italiano Andrea Pallaoro avisa o espectador: prestem atenção
nela.
Charlotte
Rampling, atriz inglesa, 72 anos, é Hannah, uma mulher complexa e enigmática,
até que entendemos melhor o contexto em que ela vive. No grupo de teatro ela
interpreta como uma ficção, a terrível realidade.
E naquela
mesa onde janta com o marido (Andre Wilms), o silêncio é o que resta, além de
ações automáticas como comer, trocar a lâmpada que queimou, ir deitar. Mas uma
massagem que ela faz com carinho nas costas do marido é um detalhe importante.
Hannah expressa cuidado e amor.
O que
aconteceu com aquele casal que parece caminhar para algo terrível ou ter vivido
um drama pesado?
As duas opções
parecem ser verdadeiras. Mas não ficamos sabendo logo. A história se desenrola
devagar.
No dia
seguinte, eles se vestem e ela pergunta:
“- Está
pronto?”
Ele se
curva e acaricia um cão, sussurrando palavras doces e amorosas. Uma despedida?
No taxi ele
entrega a ela seu relógio. Entram num lugar que é uma prisão. Ele se entrega.
Houve um crime?
Quando ela
volta ao apartamento, ao colocar as roupas dele sobre a cama, temos a impressão
de ver as roupas de um morto. Ela está de luto.
Seu rosto,
filmado em close quase o tempo todo, expressa angústia, raiva, grande tristeza
e um mergulho no lado mais escuro de sua alma.
Mas alguma
esperança ainda resta. Porque ela trabalha como faxineira na casa de uma
família rica e deita o menino cego em seu colo para fazer os carinhos que ele
pede. Ela faz isso lembrando que tem um filho e um neto. Mas não mais. Foi
expulsa da casa deles com um bolo de aniversário na mão.
O que
aconteceu de tão grave? Que crime é esse que também a compromete?
Ouvimos uma
mulher batendo na porta do apartamento e pedindo para falar com ela. Uma
conversa de mãe para mãe, diz a voz. Ela não abre a porta. Mas há indícios que
se confirmam quando ela encontra fotos escondidas.
O que
interessa aqui não é a revelação de um crime. É o essa situação vivida faz com
Hannah. Parece que ela afunda dentro de si mesma. Quando desce as escadas
intermináveis do metrô, quando olha a carcaça da baleia na praia, quando joga
fora os lírios mortos ou as fotos que encontrou.
Até quando
ela vai aguentar?
Charlotte
Rampling ganhou o prêmio de melhor atriz por sua Hannah no Festival de Veneza
de 2017.
Merecido.
Ela é o filme.
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