Direção: Xavier
Legrand
Acompanhamos uma
mulher pequena, de óculos, pelos corredores de um prédio, com uma assistente.
Depois nos damos conta de que é uma juíza que vai presidir uma audiência de
custódia de um menino de 11 anos.
O casal de pais,
recém-divorciados, cada um com sua advogada, exibem rostos sérios, apreensivos.
Nada sabemos sobre eles.
Quando a advogada
da mãe de Julien (Léa Drucker) começa a falar, muito rápido, ficamos sabendo
que há outra filha do casal, Joséphine, que vai fazer 18 anos logo e que,
portanto, não entra na questão da custódia. Abruptamente, uma carta é lida e
desperta em nós um desconforto. A advogada acrescenta:
“- Julien não quer
ver seu pai. Há uma total rejeição. Joséphine foi tratada com violência pelo
pai. A criança em questão quer ficar com a mãe.”
A outra advogada,
de óculos e muito segura de si, diz simplesmente o oposto do que a advogada da
mãe afirmou:
“- Pai e mãe são
responsáveis pela educação dos filhos. A mãe acusa o pai de violência. Não há
provas. Ele é descrito por pessoas que convivem com ele como sendo equilibrado,
generoso, normal. Não combina com o que a mulher diz dele. Meu cliente está
aterrado com a imagem que a mãe faz dele. Se ele não foi um bom marido, isso
não quer dizer que foi mau pai. Pedimos a guarda compartilhada de Julien.”
E, apesar de haver
um relatório da enfermeira da escola sobre sinais de comportamento violento do
pai contra a filha, a juíza decide pela guarda compartilhada.
“Custódia” merece
ser visto pelo espectador que não tem informações sobre o filme. Porque o
diretor nos convida a fazer um juízo próprio sobre essa cena da introdução.
Paira no ar uma dúvida. Afinal, quem fala a verdade?
Mas se a juíza deu
a guarda compartilhada...
E vamos ver
acontecer as discórdias familiares cada vez que o pai vem buscar Julien para o
fim de semana com ele. Alto, corpulento, ele se mostra empenhado em ter a
companhia do filho, que o olha com apreensão. O close da câmera em seus olhos
assustados, diz tudo.
Mas nos perguntamos
ainda se a mãe ou uma outra pessoa não foi o responsável por fazer a cabeça do
filho contra o pai (Denis Ménochet).
O filme do
estreante Xavier Legrand, 39 anos, é um convite para o espectador viver essa
relação de pai, mãe e filhos. Dentro da casa, do carro, onde eles estiverem.
Vamos sentir na pele o que está acontecendo ali.
A tensão inicial
vai num crescendo até que o filme vira um thriller. E o espectador se envolve e
fica também muito assustado com tudo aquilo, até a aterrorizante cena final.
“Custódia” é um
filme surpreendente, com excelente direção de atores bem escolhidos e menção
especial para o ator mirim Thomas Gioria. O roteiro inteligente foi escrito
pelo próprio diretor.
Grande filme, que
não somente conta uma história bem contada, mas faz também uma reflexão sobre a
violência doméstica e suas vítimas.
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