“A Criada”- “The Handmaiden” – “Ah-ga-ssi”,
Coréia do Sul, 2016
Direção: Park Chan-wook
Logo nos interessamos por aquela mocinha
coreana, criada por um ourives, que aprendeu a roubar, fazer falsificações e
cuidar de bebês que seus patrões vendiam para japoneses.
Mas Sook-Hee (Kim Tae-ni), pequena e graciosa,
logo mudará de ambiente. Da casa pobre, vai ser levada por um golpista (Jung-woo
Há) para a luxuosa mansão de um ricaço. Lá ela será a criada de quarto da
sobrinha japonesa do dono da casa, Lady Hideko, uma rica herdeira.
Além do tio, um velho perverso que pensa em se
casar com a sobrinha de sua mulher morta para apossar-se de sua fortuna, o
Conde, golpista sem moral, também tem o mesmo objetivo. Para isso ele vai
precisar da mocinha pobre naquela casa rica. Chamada agora Tamako, ela vai se
aproximar da rica Hideko, que parece ingênua e frágil, para convencê-la a
casar-se com o Conde.
A história, adaptada para a Coréia durante a
ocupação japonesa nos anos 30 do século XX, vem de um livro escrito por Sarah
Waters (“The Fingersmith” – “Na Ponta dos Dedos”), que originalmente se passa na
Inglaterra vitoriana.
Park Chan-wook, conhecido por seu filme “Old
Boy”, premiado em Cannes em 2004, mostra aqui que além de violência, aprecia o
luxo e o refinamento.
O filme é deslumbrante. Cenários cheios de
detalhes preciosos tem como personagem principal o feminino: a relação entre as
duas protagonistas. Park Chan-wook faz com que apreciemos a beleza natural das
jovens de corpos perfeitos e pele de pêssego, cabelos negros sedosos e gestos
delicados.
O quarto de Hideko é retratado como um lugar de
delícias e prazeres voluptuosos. A enorme cama está no centro do ambiente ornado
de espelhos e armários repletos de sapatos, gavetas com luvas finíssimas,
quimonos preciosos, joias e leques. Uma corda enrolada como uma cobra na
prateleira mais alta do armário intriga a criada. Um fio de seda com guizos,
também.
Tais objetos não estão ali por mero acaso. Tem
papel importante na história das perversões e fatalidades acontecidas naquela
casa.
O jardim, palco de uma tragédia, tem a beleza
de uma obra prima de um paisagista dotado. A cerejeira florida é o centro desse
jardim do paraíso, onde a serpente se esconde, entre as pedras, riachos,
arbustos e caminhos de cascalho. Uma natureza copiada e aprimorada.
Mas, no jogo das reviravoltas, mentiras,
traições e mudanças de identidade, que são a parte interessante da história,
quem é a serpente? A plateia fica em suspense e acompanha os “flashbacks” que
explicam muita coisa que ainda não sabíamos.
O diretor, que geralmente mostra sangue, aqui
se esmera em desvelar corpos femininos e seus mistérios. O erotismo de certas
cenas é trabalhado lentamente, levando a um arco de excitação
crescente.
Mas, mais do que a beleza das atrizes coreanas,
“A Criada” mostra que a inteligência feminina não pode ser desprezada, já que de
dominadas pela crueldade e perversão masculinas, as mulheres dessa história
passam a ser as dominadoras, nesse filme tão belo quanto surpreendente, onde o
amor vence a ganância e a maldade.
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