“Manchester à Beira Mar”- “Manchester By The
Sea”, Estados Unidos, 2016
Direção: Kenneth Lonergan
No começo do filme somos apresentados a uma
cidade e seu porto: Manchester. Barcos e casas ao longo da baia. Tudo banhado
numa luz solar prateada. Ali faz frio.
Num desses barcos, um pai, seu filho que
aprende a pescar e o tio fazendo piadas. Tudo leve, alegre, comum.
Talvez por isso haja um estranhamento quando
tudo muda radicalmente.
Custamos a acreditar que aquele homem jovem,
com um jeito duro, que trabalha como zelador faz-tudo num prédio de apartamentos
em Boston, seja o mesmo que estava no barco com o irmão e o sobrinho.
Vemos Lee (Casey Affleck, ator maravilhoso), em
pleno inverno, tirando a neve dos caminhos do prédio. Ele é também encanador e
não trata bem as pessoas para quem trabalha.
Depois, num bar, vamos conhecer um pouco mais
Lee, que é o centro da história que será contada.
Ele é problemático, paranoico, briguento.
Começa uma briga feia naquele bar, sem motivo. O que aconteceu com ele? Por que
mudou tanto? Por que tanta agressividade? Parece que ele procura alguém que o
castigue.
Quando telefonam para Lee dizendo que seu irmão
Joe (Kyle Chandler) morreu, ele parece
mais zangado do que triste. Não derrama uma lágrima. Mas corre para o hospital
em Manchester, uma hora e meia longe de onde Lee está.
Um “flashback” mostra que o irmão mais velho de
Lee tinha uma doença cardíaca grave, não iria durar muito. Os irmãos parecem
próximos e Joe muito protetor do irmão mais novo.
Mas ainda não chegamos na cena crucial e muda
que, ao som do triste adágio de Albinoni, vai mostrar o que se passou na vida de
Lee. Algo terrível aconteceu e marcou aquele homem de forma cruel. Ele não quer
viver. Ou melhor, vive para se punir. Sua depressão é grave e não há consolo
para ele, imerso numa raiva congelante.
Casey Affleck (irmão de Bem Affleck) interpreta
Lee com tanta entrega que faz a plateia sofrer com ele e, ao mesmo tempo, tentar
evitar proximidade, já que ele inspira desconfiança porque intuímos que, a
qualquer momento, ele pode explodir. Mas vamos ter que passar pelo que ele
passou para entender porque sentimos essa ambiguidade. Pena e raiva, misturadas
com medo.
O elenco coadjuvante é excelente. Michelle
Williams especialmente, como a ex-mulher de Lee, tem cenas pequenas mas onde ela
mostra a grande atriz que ela é.
O sobrinho Patrick (Lucas Hodges, ótimo) vai
ter uma relação de brigas e discussões com Lee, que não quer ser seu tutor, mas
também vai produzir o humor necessário para os momentos em que a plateia pode
respirar e rir.
Até Lee dá um sorriso por causa dele. Não é um
grande sorriso mas o possível.
Kenneth Lonergan, o diretor e roteirista que é
também autor teatral, em seu terceiro longa faz a plateia viver o drama de Lee
de maneira profunda. É doído. Ansiamos por um alívio que parece que nunca virá.
O roteiro é brilhante e não cede a chavões nem a soluções simplistas.
“Manchester à Beira Mar” é um filme marcante,
diferente dos inúmeros dramas familiares a que estamos acostumados a
ver.
Keneth Lonergan merece todos os aplausos. Seu
filme é fora do comum e palpita com personagens que parecem de carne e
osso.
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