sábado, 7 de janeiro de 2017

Belos Sonhos


“Belos Sonhos”- “Fa Bei Sogni”, Itália, França, 2016
Direção: Marco Bellocchio

A mãe e seu filho amado. Assim começa essa história. Fim dos anos 60 em Turim, Itália. Massimo (Nicolò Cabras) tem 9 anos e sua mãe (Barbara Ronchi) é jovem e animada. Os dois dançam um twist na sala do apartamento. Riem muito. Ele só tem olhos para ela.
Num outro momento, andam de ônibus pela cidade. A mãe olha pela janela. Parece triste. O menino fica preocupado.
À noite, como sempre, ela vem ver o filho dormindo. É Natal, neva lá fora e ela ajeita o cobertor. Algo se passa porque seu olhar está ainda mais triste.
E, na última noite, ela senta-se na cama do filho, tira o “peignoir” que deixa ali e diz:
“- Tenha belos sonhos...”
Era uma despedida.
Massimo acorda ouvindo um grito do pai e o barulho de vidros quebrados.
E, por mais que pergunte o que aconteceu, só consegue respostas evasivas. Todos o olham penalizados mas não sabem o que fazer.
Massimo não se conforma. Nem com a explicação metafórica do padre:
“- Sua mãe agora é seu anjo da guarda. Vai te proteger lá de cima.”
Diante do caixão, Massimo fica desesperado:
“- Mãe! Acorda! Estão te levando embora! Saia daí!”
Em seu mundo vazio, Massimo que sabe a verdade mas se nega a aceitá-la, joga um busto de Napoleão pela janela. Olha os saltos de trampolim na TV. O espaço vazio o atrai.
Um misto de dor e raiva preenche aquela ausência.
Um salto no tempo e estamos novamente em Turim. Massimo (Valerio Mastrandea) é jornalista esportivo. Veio ver o apartamento dos pais porque tem que vender. Os móveis cobertos por lençóis fazem com que se lembre de Belphagor, o “Fantasma do Louvre”, que o protegia na infância.
O luto de Massimo é profundo e se enraíza no solo materno amoroso, fechando o espaço para novas experiências.
De tanto olhar pela janela e focar o estádio de futebol próximo, escolheu escrever sobre esse esporte. Refugiava-se no terreno paterno para não pensar no espaço vazio e não olhar para baixo. Não quer pensar no anjo que uma noite voou para nunca mais voltar.
Mas o destino quis que ele fosse para a guerra da Bósnia, nos anos 90, como jornalista. E uma cena vai gerar um “insight” que abre o espaço fechado e o liberta para ver a verdade.
Um fotógrafo, em busca de uma foto definitiva sobre aquela guerra, traz um menininho que se distraia com um joguinho no quarto, para perto da mãe morta. O garotinho não tem nenhuma reação e se deixa fotografar passivamente.
E Massimo é confrontado com sua negação. Foi o modo de lidar com algo impossível de ser vivido. Como aquela criança frente a uma verdade que ela não vê.
Os ataques de pânico em que a verdade negada se converteu, vão abrandar, uma vez que o véu é retirado. Uma médica delicada (Bérenice Béjo) ajuda nesse processo de cura.
Marco Bellocchio, 77 anos, é um dos grandes diretores do cinema de sua geração. Em “Belos Sonhos” ele vai fundo na relação íntima e definitiva que todos nós temos com nossas mães. Com talento, ele nos emociona até as lágrimas.



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