“Belos Sonhos”- “Fa Bei Sogni”, Itália, França,
2016
Direção: Marco Bellocchio
A mãe e seu filho amado. Assim começa essa
história. Fim dos anos 60 em Turim, Itália. Massimo (Nicolò Cabras) tem 9 anos e
sua mãe (Barbara Ronchi) é jovem e animada. Os dois dançam um twist na sala do
apartamento. Riem muito. Ele só tem olhos para ela.
Num outro momento, andam de ônibus pela cidade.
A mãe olha pela janela. Parece triste. O menino fica preocupado.
À noite, como sempre, ela vem ver o filho
dormindo. É Natal, neva lá fora e ela ajeita o cobertor. Algo se passa porque
seu olhar está ainda mais triste.
E, na última noite, ela senta-se na cama do
filho, tira o “peignoir” que deixa ali e diz:
“- Tenha belos sonhos...”
Era uma despedida.
Massimo acorda ouvindo um grito do pai e o
barulho de vidros quebrados.
E, por mais que pergunte o que aconteceu, só
consegue respostas evasivas. Todos o olham penalizados mas não sabem o que
fazer.
Massimo não se conforma. Nem com a explicação
metafórica do padre:
“- Sua mãe agora é seu anjo da guarda. Vai te
proteger lá de cima.”
Diante do caixão, Massimo fica
desesperado:
“- Mãe! Acorda! Estão te levando embora! Saia
daí!”
Em seu mundo vazio, Massimo que sabe a verdade
mas se nega a aceitá-la, joga um busto de Napoleão pela janela. Olha os saltos
de trampolim na TV. O espaço vazio o atrai.
Um misto de dor e raiva preenche aquela
ausência.
Um salto no tempo e estamos novamente em Turim.
Massimo (Valerio Mastrandea) é jornalista esportivo. Veio ver o apartamento dos
pais porque tem que vender. Os móveis cobertos por lençóis fazem com que se
lembre de Belphagor, o “Fantasma do Louvre”, que o protegia na
infância.
O luto de Massimo é profundo e se enraíza no
solo materno amoroso, fechando o espaço para novas experiências.
De tanto olhar pela janela e focar o estádio de
futebol próximo, escolheu escrever sobre esse esporte. Refugiava-se no terreno
paterno para não pensar no espaço vazio e não olhar para baixo. Não quer pensar
no anjo que uma noite voou para nunca mais voltar.
Mas o destino quis que ele fosse para a guerra
da Bósnia, nos anos 90, como jornalista. E uma cena vai gerar um “insight” que
abre o espaço fechado e o liberta para ver a verdade.
Um fotógrafo, em busca de uma foto definitiva
sobre aquela guerra, traz um menininho que se distraia com um joguinho no
quarto, para perto da mãe morta. O garotinho não tem nenhuma reação e se deixa
fotografar passivamente.
E Massimo é confrontado com sua negação. Foi o
modo de lidar com algo impossível de ser vivido. Como aquela criança frente a
uma verdade que ela não vê.
Os ataques de pânico em que a verdade negada se
converteu, vão abrandar, uma vez que o véu é retirado. Uma médica delicada
(Bérenice Béjo) ajuda nesse processo de cura.
Marco Bellocchio, 77 anos, é um dos grandes
diretores do cinema de sua geração. Em “Belos Sonhos” ele vai fundo na relação
íntima e definitiva que todos nós temos com nossas mães. Com talento, ele nos
emociona até as lágrimas.
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