“O Bom Gigante Amigo”- “The BFG”, Estados
Unidos, 2016
Direção: Steven Spielberg
“- Todas as coisas ruins saem de seus
esconderijos e o mundo é delas”, diz às 3 da manhã a pequena Sophie (Ruby
Bamhill), a órfã insone, que zanza pelo orfanato
embrulhada em sua colcha de retalhos e seu gato
e aproveita sua insônia para ler um livro de Dickens com uma lanterna. De óculos
vermelhos, ela acredita que é às 3 da madrugada que é a hora das bruxas e não
meia noite como todo mundo pensa.
E, curiosa, abre a janela e olha a rua escura
londrina, onde bêbados fazem algazarra. Sophie ameaça chamar a polícia e eles
correm. Ela tem autoridade.
Mas o que é aquela sombra enorme que se
aproxima?
Sophie volta para a cama correndo.
Mal sabe ela que aquilo que se aproxima de sua
janela vai levá-la para viver grandes aventuras.
Com sua enorme mão, o gigante carrega a menina
apavorada em sua colcha, para uma terra misteriosa, escondida nas
nuvens.
Nós, na plateia, vemos, maravilhados, todos os
detalhes daquela enorme criatura, de pés gigantescos e orelhas imensas (que
ouvem todos os sussurros da noite), o Grande Gigante Amigo (na voz e alguns
traços de Mark Rylance, Oscar por “Ponte dos Espiões”, também de Spielberg), que
é a alma do filme.
Primeiro assustada mas logo encantada, Sophie e
BFG ficam amigos. No fundo, os dois solitários adoram ter a companhia um do
outro. E Sophie, que pensava que todos os gigantes do mundo comiam crianças,
aliviada percebe que BFG, ao contrário dos outros, adora crianças.
Emocionada, escuta seu novo amigo contar a
história do menino que morava naquela casa e que teve um triste fim por causa
dos outros gigantes, muito maiores do que ele, que habitam a Terra dos Gigantes
e dormem debaixo da grama.
BFG, ao contrário dos outros, é vegetariano e
gentil e sua profissão é caçar sonhos e colocá-los em garrafas onde cintilam em
cores variadas. Guardados em prateleiras no seu laboratório, depois são soprados
por BFG nas crianças que dormem.
Steven Spielberg, o mágico diretor de filmes
para crianças, que os adultos adoram, mistura pessoas de verdade com figuras
animadas por tecnologia e cria um mundo de fantasia e beleza em seu novo
longa.
Há o medo e o horror na figura dos gigantes
maus mas há também delicadeza, espiritualidade e encantamento, especialmente
quando visitamos a grande árvore e o lago dos sonhos, com Sophie e o
gigante.
O humor aparece nas piadas sobre, digamos, os
efeitos da digestão e no final do filme, quando Sophie leva seu amigo grandão
para falar com ninguém menos que a Rainha Elizabeth II (Penelope Wilton de
“Downton Abbey”).
O filme é dedicado a Melissa Mathison que
faleceu depois de escrever o roteiro, adaptado do livro de Roal Dahl de 1982,
com a mesma poesia que havia no seu roteiro para “E.T.”
John Williams, responsável pela música do
filme, como sempre, um mestre do som que comanda emoções.
Saimos do cinema ainda em transe, com as
imagens fascinantes que acabamos de ver. Tudo funciona às mil maravilhas,
principalmente o tema da amizade que une Sophie e o BFG, criaturas tão
diferentes no tamanho mas tão parecidas no amor que sentem em seus
corações.
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