Direção: Xavier Gianoli
A rica baronesa Marguerite Dumont vivia isolada
mas dava festas e recitais disputados em sua casa palaciana, nos arredores de
Paris. Sempre beneficentes e para o círculo “Amadeus” de amantes de óperas. E
ela era, claro, a principal atração.
Estamos em 1920, os “anos loucos” e a Primeira
Guerra deixara traços trágicos na Europa.
Quando começa o filme, Marguerite abre seus
salões para um recital de novos talentos, entre eles uma bela e jovem soprano
(Christa Theret), em benefício dos órfãos de guerra.
Pulando o muro, já que não tinham sido
convidados, um crítico de música (Sylvain Dieuaide) e um artista de vanguarda
(Aubrey Fenoy) vão presenciar a apresentação da baronesa, que se crê soprano
coloratura e vai cantar a ária da Rainha da Noite, da “Flauta Mágica” de
Mozart.
E, quando começa, os três, a jovem soprano e os
dois rapazes, que nunca tinham escutado Marguerite cantar, se surpreendem. Ao
invés do canto mágico e difícil, da garganta dela saiam grasnidos e notas
erradas. Total e perdidamente desafinada.
Mas a plateia, apesar dos risinhos disfarçados,
a aplaudia ao som de “Brava!”. Como era possível tanta loucura? Fácil.
Marguerite era muito rica e patrocinava toda aquela gente que vinha aos seus
recitais. Tudo ali era comprado. Inclusive o título de barão e
baronesa.
O marido (André Marcon), o que mais se
aproveitava da riqueza de Marguerite, conseguia chegar sempre no fim de suas
apresentações, com mil desculpas, para evitar a vergonha. Ele e o mordomo fiel
Madelbos (o ator do Congo, Denis Mpunga, ótimo), cuidavam para que Marguerite
continuasse a acreditar em seu sucesso.
Aliás quem, em sã consciência, iria abrir mão
de seus favores e contar a verdade trágica para Marguerite?
E o diretor, Xavier Gianoli, conduz com tanto
talento essa história, baseada na vida da americana Florence Foster Jenkins (que
será vivida por Meryl Streep no filme de Stephen Frears), que antes
horrorizados, vamos nos afeiçoando a Marguerite, vivida com carisma pela atriz
francesa Catherine Frot, premiada com o César, o Oscar francês.
A Marguerite de Catherine Frot convence na sua
ingenuidade e carência afetiva. Ela acreditava piamente nas palmas dos
hipócritas que a ouviam nos recitais em sua casa. Usando de uma forte negação,
ela cantava para fugir da loucura, como confessa ao marido. Precisava dos
holofotes, das roupas que tinham vestido famosas Carmens, Normas e Walkírias,
que trajava nas fotos de Madelbos e que criavam uma falsa carreira para ela.
Precisava ser vista e ouvida para existir nessa vida inventada, que a fazia
esquecer de quem na verdade era e não queria ser.
Até o dia em que resolve apresentar-se ao
grande público, nada mais, nada menos que na Opera Garnier, palco ilustre,
vestida com asas brancas como um anjo.
O filme de Xavier Gianoli, quase uma fábula,
mostra o poder de uma elite e o fato de que quase todo mundo tem um
preço.
Nem comédia, nem tragédia, mas algo que mistura
esses gêneros de forma harmoniosa, “Marguerite” comove e nos leva a torcer por
ela. Ficamos divididos, por piedade e compaixão, entre a vontade de que ela pare
de cantar e o medo de que isso faça com que ela sofra mortalmente.
“Marguerite”, sem dúvida, conquista a
plateia.
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