Direção: Rodschdy Zem
É uma vergonha para a humanidade que existam
pessoas, no século XXI, comportando-se do mesmo modo que outras que viveram dois
séculos atrás.
A atual onda de intolerância,
preconceito e racismo que vemos acontecer, é algo que não podemos deixar de
denunciar.
Por isso o filme do ator-diretor
Rodschdy Zem, “Chocolate”, adaptado pelo diretor, Cyrill Gely e Olivier Gorce,
do livro “Chocolat Clown Nègre – L’histoire oubliée du premier artiste noir de
la scène française” escrito por Gérard Noiriel, é bem-vindo para colaborar na
reflexão sobre esse assunto.
Rafael Padilha, o verdadeiro nome de
Chocolat, nasceu em Cuba, em 1865, de uma família escravizada. Ele também foi
vendido como escravo para a Espanha mas conseguiu fugir e sobreviveu como pôde,
até conseguir um lugar no Circo Delvaux.
Lá fazia “Kalanka, o rei canibal”,
que assustava crianças e adultos ingênuos, que nunca tinham visto um negro de
verdade. Dividia o picadeiro com uma chimpanzé, grunhia e fazia caretas, do alto
de seus quase dois metros de altura. A plateia gritava entre o susto e a
surpresa.
Foi quando George Footit, um antigo
palhaço, tem a ideia de inovar e incluir o negro em seu número. Ele seria o
palhaço branco autoritário e Chocolat o perseguido, que apanhava e levava
pontapés.
O número usava o preconceito que via
o negro como alguém que só podia ser ridicularizado pelo branco, já que não
impunha nenhum respeito.
Deu certo e a fama deles como uma
dupla original chega aos ouvidos do diretor do “Circo de Inverno de Paris”, que
contrata os dois.
Chocolat adora Paris. A visão do
novo espaço de trabalho, para quem só tinha visto picadeiros de circos pobres, o
encanta. Passar da pobreza à riqueza e à fama não demorou muito. E Chocolat,
mulherengo e generoso, gastava mais do que podia, jogava, bebia e contraia
dívidas. Seu parceiro ganhava o dobro do que ele ganhava mas gastava pouco e
censurava Chocolat.
Os dois fazem tanto sucesso que são
escolhidos para serem filmados pelos irmãos Lumière. O filme passa em preto e
branco no final, antes dos créditos.
A dupla figura em cartazes de
propaganda de produtos. Toulouse Lautrec pintou Chocolat muitas vezes. A fama
dele estava no auge.
Até que Chocolat é preso por dívidas
de jogo e fica conhecendo um haitiano que acorda nele o que estava adormecido.
Tarde demais.
Omar Sy está excelente como o
palhaço grandão, ingênuo e simpático, adorado pelo público. Faz, com talento, um
Chocolat que não percebe que só é aceito enquanto interpreta o papel que o
público quer para ele.
É comovente sua decepção quando,
querendo fazer teatro sério, seu Otelo é vaiado.
O ator que faz seu parceiro, James
Thierré é mais conhecido na França como artista de teatro. Neto de Charles
Chaplin, ele herdou o talento do avô para compor um palhaço patético.
“Chocolate”, apesar de não ser um
filme excepcional, agrada bastante ao contar uma história exemplar.
E Omar Sy mostra, mais uma vez,
porque é o queridinho do cinema francês. Ele é um ator com muito carisma e
encanto. Vale a pena vê-lo interpretando Chocolat, um artista pioneiro,
esquecido e dramático.
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