Direção: Roger Michell
Quem não adora Paris?
Para os britânicos é só pegar o trem em Londres e logo
se chega lá.
Meg e Nick vão comemorar seus 30 anos de casados na
Cidade Luz. Mas, se tudo neles é antecipação, uma nota dissonante já se faz
ouvir:
“- Você está com os euros?”pergunta ela. “Você perde
tudo!”
“Daqui a pouco perco você”, responde ele, meio
brincando, meio sério.
Mas, quando chegam, os rostos iluminados, aproveitam do
céu azul e brincam que sabem falar francês.
Na frente do hotel que reservaram, porque foi lá que
passaram a lua de mel, há decepção nos olhos de Meg.
Parece que o passado traz lembranças de um outro hotel
mais... Meg não sabe bem o quê.
Mas, definitivamente, a cor das paredes do quarto no
último andar, por onde se sobe levando as próprias malas, por uma escada
íngreme, porque ninguém ajuda, não é a mesma.
E Meg decide ir embora, Nick atrás, ouvindo as últimas
desculpas e promessas do diretorzinho jovem do hotelzinho
chinfrim.
Pegam um táxi e o “tour” por Paris traz novamente
energia ao casal. E o Arco do Triunfo, a Place de la Concorde, a Notre Dame,
tudo enche os olhos de Meg, que não se cansa de pedir outra volta ao
taxista,
E, de repente:
“- Pare!”
E deixa o marido para discutir o preço da corrida com o
taxista. Alguém já pega as malas.
Ela vai direto à recepção do Plaza Athenée. Uma moça
elegante responde que, infelizmente, estão lotados.
A decepção carrega o semblante de Meg mas Nick olha todo aquele fausto e fica aliviado.
Sentam-se no sofá de veludo do hall do hotel e estão trocando farpas, quando a
mesma moça aproxima-se deles:
“-Vocês estão com sorte. Temos uma suíte por dois
dias.”
E, do luxo da escadaria, com seus bronzes, mármores e
passadeira macia, vão direto à suíte onde orquídeas, frutas exóticas e almofadas
de seda os esperam. Ao sair ao balcão, a Torre Eiffel é vizinha
deles:
“- É maravilhoso! Vamos brindar”, diz Meg, pegando um
champagne e taças no frigobar.
“- Vai com calma...Já gastamos muito. Como vamos
reformar o banheiro? Precisamos falar sobre a escolha dos
azulejos.”
“- Ladrilhos?”, fala Meg com
enfado.
E o casal vai continuar assim, indo do céu ao inferno,
no meio das frases trocadas.
Nick parece ser um homem amedrontado, apesar de guardar
ainda um charme juvenil quando quer usá-lo.
Percebe-se que adora Meg e que ela, de um jeito
majestático, aceita a adoração. Mas sua beleza também está indo embora e o sexo
que ele pede, ela pode dar mas nega, com a certeza de que ele vai ficar ali com
ela.
Há amor entre eles mas sustentado por um clima
agridoce.
O diretor Roger Michell (de “Um lugar chamado Nothing
Hill”)1999, escolheu ótimos atores para viver o casal inglês,
Lindsay Duncan e Jim Broadbent,
maravilhosos e convincentes.
O roteiro é um acerto de Hanif
Kuraishi.
Jeff Goldblum, o ex-colega de universidade, é o peso que
vai desequilibrar algo que está por um fio.
Meg e Nick existem na vida real. Isso incomoda o
espectador desavisado que pensa que vai ver Paris e suas luzes e acaba
testemunhando um longo casamento que se alimenta de uma cumplicidade
necessária.
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