Direção: Pierre Salvadori
Todo mundo tem seus momentos de tristeza. Coisa
passageira, com motivos.
Mas, quando não passa e se aprofunda, chamamos de
depressão, que pode ser uma doença ou um estado normal do ser humano, uma fase
que nos assusta e a quem está por perto.
Esse filme francês “Em um Pátio de Paris”, mostra de uma
maneira simples e, com uma certa ternura, porque a depressão numa pessoa pode
afastar os outros e levar a pensar que ela precisa de remédios ou até de
internação.
Antoine (Gustave Kerten), uns quarenta e poucos anos,
forte, barbudo, cabelos grisalhos, semblante sem expressão, larga sua vida de
vocalista de uma banda, sem maiores explicações. Simplesmente vai
embora.
Sentado no banco do parque, na verdade não está ali.
Parece alheio a tudo.
Em seguida, o vemos numa agência de empregos onde tentam
ajudá-lo. Consegue o de zelador e porteiro de um prédio de classe
média:
“- Limpar, arrumar um pouco e dormir, é tudo que eu
quero.”
“- Mas não vá dizer isso. Assusta as pessoas! Você tem
que passar uma ideia de que é prestativo, gosta de contato humano, senão não vão
dar o emprego para você”, avisa a moça da agência.
Mas tem mais gente deprimida nesse mundo do que Antoine
imagina. Consegue o emprego e passa a conviver com os
moradores.
Mathilde, mulher de meia idade, aposentada, bonita ainda
(afinal, a atriz é nada menos do que a eternamente bela Catherine Deneuve), foge
da depressão falando no telefone sem parar, se ocupando com uma associação,
lendo para o vizinho cego, ou ainda se preocupando às 3 da manhã, em medir as
rachaduras que apareceram na sala, alimentando ideias delirantes de que o prédio
vai cair.
Antoine faz faxina e não dorme. Mathilde também
não.
Outro dos moradores é um ex-jogador de futebol (Pio
Marmai) que teve seus dias de glória e agora afunda na cocaína. Logo estão
cheirando juntos, ele e Antoine.
Um dos visitantes, que acaba morando escondido no prédio
é Lev, um sem teto que vende livros e filmes de uma seita estranha. Tem um
cachorro enorme e não consegue outro lugar para dormir. Antoine não sabe dizer
não.
Quando Mathilde piora muito e seu marido quer
interná-la, ela vai se refugiar com Antoine, o único que a compreende. Os dois
estão no mesmo barco.
Pessoas deprimidas estão com muita raiva comprimida
dentro de si mesmas. Quando essa raiva se vira contra a própria pessoa, torna-se
perigosa.
Pierre Salvadori, diretor e roteirista, 50 anos, faz um
filme que, aparentemente, é comédia mas com toques de
tragédia.
É a vida, sem muitos enfeites para disfarçar o humano. Bom para aprender uma ou
duas coisas sobre as outras pessoas e nós mesmos.
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