“Amor à Primeira Briga”- “Les Combattants”, França,
2014
Direção: Thomas Cailley
A juventude é uma época de incertezas. Sempre foi e será
assim, porque é próprio de um momento da vida onde acontecem mudanças no corpo e
na vida.
Arnaud, uns 18 anos, acabou de perder o pai, trabalha
com o irmão mais velho na marcenaria que herdaram e a presença da mãe ao lado
deles não é opressiva.
Madeleine, tem a mesma idade, é bonita, musculosa e
brava. Falta nela um pouco de descontração, talvez um quê de feminilidade. Está
sempre na defensiva.
Quando os dois são escalados para fazer um combate corpo
a corpo na praia, ela, que parece mais forte do que ele, vai vencer a luta mas,
surpreendentemente, ele morde o braço dela.
Vemos o olhar de surpresa que ela lança para ele. Mas
não denuncia o golpe baixo. Ao contrário, aquela mordida provocou algo
nela.
E a vida vai aproximando os dois, ou melhor, Arnaud vai
se chegando e ela, sempre muito fechada.
Em meio a um trabalho de marcenaria que os irmãos fazem
no jardim da casa de Madeleine, ele salva uma fuinha que caiu na piscina e a
leva para Madeleine que não conseguira o resgate:
“- Vamos devolvê-la à vida selvagem”, diz
Madeleine.
“- A mãe vai rejeitá-la. Está com cheiro de cloro. Vai
morrer de fome. Você não quer adotá-la? Ser a mãe
dela?”
“- Não posso. Em setembro vou para o exército” e devolve
o bichinho para ele.
“- Tudo bem. Vou cuidar dela.”
E Madeleine, que está curiosa sobre Arnaud, mas não dá o
braço a torcer, leva pintinhos congelados para a fuinha dele e aceita o convite
para jantar que a mãe faz.
Conversando, Madeleine mostra seu medo do futuro, onde
ela imagina que a espera um mundo agressivo e destruído. Não é só a crise que
acontece na França que ameaça os jovens com desemprego. Ela vê realmente, um
mundo sombrio à sua frente, com contaminação nuclear, seca, fome e
epidemias.
Por isso resolveu alistar-se no exército, onde pensa que
vai aprender a sobreviver num mundo hostil.
Na verdade, Madeleine teme o mundo dos afetos e posa de
valentona. Arnaud, que parece frágil, convida a moça para dançar, ser mais
alegre, mais feminina. Ele a convida para o amor.
Uma lição importante vai ser aprendida. A sobrevivência
precisa ser vivida plenamente, senão qual é a graça?
O filme do jovem diretor e roteirista Thomas Cailley, 36
anos, mostra que acreditar nos estereótipos sobre o macho e a fêmea impede uma
plena possibilidade de amadurecimento. E os jovens atores Kévin Azaias e
Adèle
Haenel são excelentes. Ela ganhou o César, o Oscar
francês de melhor atriz e o filme levou todos os prêmios da mostra “Um Certain
Régard”, para primeiros filmes.
“Amor à Primeira Briga” foi um sucesso de público na
França, valendo-se do boca a boca.
Agradará a brasileiros
também.
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