Direção: János Szász
A Segunda Grande Guerra foi palco de muitos dramas. Como
em toda guerra, a humanidade do inimigo desapareceu ou quase, e viveu-se um dia
a dia de busca de sobrevivência e medo.
A história dos gêmeos de doze anos que são deixados no
campo pela mãe, com a avó, que ela não vê há muito tempo, em si mesma já é
dramática. Por que aquela filha se afastou assim dos pais? E para onde
segue?
“- Por anos você não me escreveu e agora quer que eu a
ajude?” pergunta a mãe da mãe.
“- Só quero que você proteja meus
filhos.”
“Será que pelo menos eles tem um pai? Não fui convidada
para o casamento... Vou por os dois para trabalhar. Comida não é de
graça.”
E aquela velha baixinha e mal vestida, que mora numa
casa pequena e suja e é intratável, vai infernizar a vida dos
gêmeos.
O pai deles dera aos filhos um caderno, antes de voltar
para a guerra. E a mãe pedira que eles fossem fortes e continuassem os
estudos.
Aquele diário será preenchido com relatos da vida dos
meninos. Terá marcas e restos de penas, sangue e desenhos, retratando os
horrores a que presenciam. Ouvimos em “off” a voz de um deles que vai narrando
os acontecimentos registrados no diário.
O diretor János Szász adaptou o romance de Agota Kristof
(1935-2011), com fotografia de Christian Berger, que deu uma beleza flamenga aos
retratos da natureza, sob o sol ou a neve, sem que com isso se esconda a
podridão que ronda e que vai transformar aqueles meninos em sobreviventes sem
sentimentos ternos.
Para ficar mais resistentes, os gêmeos resolvem treinar
o corpo para não sentir dor. Todos batiam neles sem precisar de nenhuma razão.
Então, eles vão endurecer, esquecer que tem mãe, pai ou que passam fome e
sede.
“- Precisamos esquecer das palavras doces de mamãe
porque aqui ninguém nos trata assim e porque recordá-las dói
muito.”
O oficial alemão, comandante do campo de concentração
além da fronteira e que mora numa outra casa da avó,
pergunta:
“- Por que vocês batem um no
outro?”
“- Para nos acostumarmos com a
dor.”
“- Vocês gostam da dor?”
“Não. Só queremos vencer a dor, o frio, a
fome.”
Colocando uma couraça invisível, os dois só tem um ao
outro, para poder sobreviver naquele inferno. Mas até isso será tirado deles,
por eles mesmos.
Resta alguma piedade nos gêmeos porque não são maus. São
apenas duas crianças fazendo o que podem para enfrentar homens em
guerra.
Haverá esperanças de dias
melhores?
Nós, adultos, precisamos pensar no que fazemos com
nossas crianças e o que ensinamos a elas com os nossos exemplos. “O Diário da
Esperança” fornece um bom material para esse exame de consciência
necessário.
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